Por que assistir a ‘Better Than Us’, a série russa da Netflix sobre ciborgues?

Por que assistir a  ‘Better Than Us’, a série russa da Netflix sobre ciborgues?
Andrey Junkovsky/Black, Yellow and White/Netflix, 2018
Viver entre robôs é tema de seriado traduzido para 25 idiomas, incluindo português.

Em termos de história, a série russa sobre ciborgues androide “Better Than Us” (‘Ludche tchem Ludi”, em russo) lembra o sucesso sueco “Real Humans” e a anglo-americana “Humans”. Também entra levemente no território de “Westworld”, mas mantém sua originalidade. Descubra por que, ainda assim vale a pena assistir a outro drama de TV em um futuro próximo focado nas relações entre robôs e humanos.

Por que assistir a  ‘Better Than Us’, a série russa da Netflix sobre ciborgues?
Andrey Junkovsky/Black, Yellow and White/Netflix, 2018

Enredo intrincado

A história se passa na Rússia em uma era ciberpunk total.

Telas de smartphones são projetadas nas mãos, os assistentes de voz são mais rápidos do que o tempo necessário de formular a solicitação e os robôs se tornaram comuns, como aspiradores de pó ou câmeras de carro. Alguns deles se parecem com robôs humanoides do Boston Dynamics e são usados ​​para fazer trabalhos servis ou desagradáveis, como carregar cargas pesadas, cavar terra e realizar autópsias. Outros, de próxima geração, se parecem com humanos: fazem tarefas domésticas, são cuidadores de idosos, secretárias, motoristas, usados ​​como brinquedos sexuais e soldados fieis de gangues para recolher esmolas.

A única coisa que nenhum tipo de robô pode fazer é prejudicar um ser humano (já que o software não está programado para isso). Mas, de repente, aparece no mercado negro um robô cujas habilidades vão além do comum. A chamada Arisa e é capaz de empatia, entendendo os conceitos de amor e família, mas também matar e morrer.

Por que assistir a  ‘Better Than Us’, a série russa da Netflix sobre ciborgues?
Andrey Junkovsky/Black, Yellow and White/Netflix, 2018

“Better Than Us” não possui tantas inovações e truques futuristas que mantêm o público em estado de constante reverência, mas reúne todos os ingredientes de um drama atual e veloz: uma corporação do mal, um romance adolescente, um herói que está lutando para salvar seu casamento, um investigador obstinado, radicais tecnofóbicos, polícia cibernética, autoridades ardilosas, um choque de ideologias e, é claro, muitos robôs. As histórias estão intimamente entrelaçadas em um único cenário capaz de cativar os fãs de histórias de detetives cheias de ação e aqueles que estão interessados ​​no destino da humanidade em meio às tecnologias que nos consomem.

Ciberpunk à moda russa

Os robôs já tiveram inúmeras representações nas telas, mas nunca antes foram tão bem colocados no contexto russo. Os russos podem usar robôs? Por acaso, a ascensão das máquinas é diferente na Rússia e no Ocidente?

O ciberpunk russo em “Better Than Us” é um ambiente confortável, onde todos estão calmos e felizes: uma hipoteca pode ser paga com um piscar de olhos, não há burocracia; drones, androides e outros eletrodomésticos tornam a vida fácil e despreocupada, como em um resort de férias. Não paira realismo sombrio sobre a série. Os produtores quiseram claramente criar uma paisagem genérica que seria familiar e compreensível em qualquer lugar do mundo: cenas internas foram filmadas em locações, enquanto as cenas da cidade apresentam arranha-céus de vidro.

Por que assistir a  ‘Better Than Us’, a série russa da Netflix sobre ciborgues?
Andrey Junkovsky/Black, Yellow and White/Netflix, 2018

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Nesse cenário ciberpunk russo, não há lugar para blocos de apartamentos pré-fabricados (tão intimamente associados a qualquer cidade russa) ou a um tradicionalmente eclético cemitério russo: espectadores atentos lembram que o personagem principal vai a um cemitério em um dos episódios, e que o cemitério em questão não foi definitivamente filmado na Rússia (com gramado aparado, fileiras retas de lápides brancas idênticas e com nomes em inglês).

Não é uma adaptação de série ocidental

Para os fãs de ciberpunk, o enredo da série de TV russa certamente lembrará de outras produções do gênero. Afinal, esta não é a primeira história em que androides vivem lado a lado com pessoas e as expulsam gradualmente de todas as esferas da vida, incluindo de suas famílias.

Por que assistir a  ‘Better Than Us’, a série russa da Netflix sobre ciborgues?
Andrey Junkovsky/Black, Yellow and White/Netflix, 2018

Mas é difícil imaginar um mundo onde todos ficariam felizes com essa configuração. O surgimento de conservadores tecnofóbicos (na série, eles formam uma célula radical de resistência que arranca fichas de robôs e realiza protestos assustadores), policiais cibernéticos e pessoas que brincam habilmente com os instintos xenofóbicos das pessoas para seus próprios fins parecem inevitáveis ​​nesse gênero.

Ainda não é possível acabar com essa retórica. Até mesmo porque o futuro dos robôs foi, até certo ponto, predeterminado há muito tempo.

Será que algum de nós ainda duvida que eles serão usados ​​para sexo e trabalho braçal, e que pessoas más tentarão usar robôs para fazer suas coisas sujas por eles?

Significados ocultos

Alguns podem pensar que “Better Than Us” é uma contemplação de como os humanos podem se adaptar à sua realidade cibernética.

A série frequentemente levanta questões éticas: sexo com robô é adultério? Afinal, um robô não é um ser vivo. Ou todo esse material cibernético é uma espécie de peste que corrompe o país e contra o qual devemos nos proteger?

Como diz um dos personagens: “Eles não são alguém com quem você queira morrer no mesmo dia, dar as mãos no metrô ou tomar café da manhã junto”.

Por que assistir a  ‘Better Than Us’, a série russa da Netflix sobre ciborgues?
Andrey Junkovsky/Black, Yellow and White/Netflix, 2018

Alguns podem ver essa série como um olhar irônico sobre a preocupação do Estado com laços espirituais e valores tradicionais. Outros enxergarão mecanismos políticos modernos, ou um subtexto completamente novo entre as produções russas: a preocupação com a objetificação sexual das mulheres.

“Better Than Us” oferece diferentes pontos de vista e muito material para reflexão. Nos faz, inclusive, pensar se a principal fonte de perigo estaria na própria psique humana: são os humanos que se apegam às máquinas sem alma, as antropomorfizam e começam a acreditar que as máquinas precisam delas e que elas precisam das máquinas – e que essas máquinas são realmente melhores que as pessoas.

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