História de Arkhanguelsk, cidade que foi o principal porto da Rússia por séculos

Boris Egorov

21 de abril de 2022

História de Arkhanguelsk, cidade que foi o principal porto da Rússia por séculos — Galeria Tretiakov/Domínio público

Até Pedro, o Grande, abrir uma “janela para a Europa” através do Mar Báltico, era Arkhanguelsk, na costa do Oceano Ártico, que servia como o principal porto do império.

Hoje, a Rússia é banhada por 13 mares, mas nem sempre foi assim.

No século 16, o país tinha acesso apenas ao Oceano Ártico e lutou ferozmente para obter acesso ao Mar Báltico. Sem saída aos mares no ocidente e no sul, ficava difícil estabelecer o comércio com a Europa Ocidental, tão necessário para o desenvolvimento do país.

Em 1581, durante a Guerra da Livônia, as tropas suecas capturaram Narva, o único grande porto russo na costa do Báltico. O tsar russo Ivan, o Terrível, foi obrigado a desenvolver o norte para o comércio com o exterior. Os comerciantes ingleses já haviam aberto uma rota para vilas russas nas margens do Mar Branco, mas havia poucas marinas locais para um comércio eficiente, era preciso construir um grande porto no norte da Rússia.

Em 4 de março de 1583, o tsar ordenou a fundação de uma cidade perto do mosteiro Mikhailo-Arkhangelsk, localizado na foz do rio Dvina do Norte, a 30 km do Mar Branco. No ano seguinte, foi fundada nesse lugar a fortaleza Nôvie Kholmogôri – que, a partir do século 17, ficou conhecida como Arkhanguelsk. "A fortaleza é construída de mastros de navios; eles são talhados juntos sem pregos ou cunhas, o trabalho é excelente, embora seja feito com um único machado; mas o carpinteiro mais habilidoso não conseguiria construir algo melhor”, escreveu, na época, o comerciante francês Jean Sauvage.

Arkhanguelsk desenvolveu-se rapidamente, um grande porto foi construído, bem como centros para comerciantes estrangeiros, chamados Gostini Dvor. Os ingleses, holandeses e outros estrangeiros vendiam tecidos, veludos, vinhos, pedras preciosas, pólvora e canhões e compravam trigo, carne de porco, zibelinas, resina e outras mercadorias. Quase todo o comércio russo com os países ocidentais era realizado por meio dessa cidade do norte.

O primeiro imperador russo, Pedro, o Grande, visitou Arkhanguelsk em 1693 e ficou impressionado com o número e a variedade de navios estrangeiros que visitavam o porto. Por sua ordem, o estaleiro Solombala foi fundado na cidade, onde, entre outras coisas, começou a ser criada a frota militar e mercante russa. Em 25 de junho de 1701, no início da Guerra do Norte, a Suécia tentou capturar a cidade, mas foi derrotada na fortaleza de Novodvinsk. Esta foi a primeira grande vitória das tropas russas na Guerra do Norte.

No início de seu reinado, Pedro, o Grande, contribuiu para o desenvolvimento de Arkhanguelsk, mas também foi ele que, no final, quase fechou esse centro de comércio russo. Após diversos sucessos na Guerra do Norte, o tsar começou a redirecionar deliberadamente os fluxos comerciais de Arkhanguelsk para São Petersburgo, fundada em 1703. Em 1718, apenas um terço das exportações passava pelo porto de Arkhanguelsk, e a nova capital russa se tornou o principal porto comercial com as potências ocidentais.

Durante o reinado de Catarina, a Grande, Arkhanguelsk não mais interferia no desenvolvimento de São Petersburgo, e a imperatriz suspendeu as restrições impostas por Pedro. No entanto, a cidade não conseguiu recuperar sua posição anterior. O antigo porto perdeu ainda mais sua importância com a fundação, em 1916, na costa do Mar de Barents, da cidade de Murmansk, onde as águas nunca congelam.

A Primeira e a Segunda Guerras Mundiais criaram grandes problemas para a navegação nos mares Báltico e Negro, e Arkhanguelsk se tornou um salva-vidas. Todas as exportações de trigo, madeira e outras matérias-primas para os portos dos países aliados e as importações de armas e munições foram realizadas por esse porto do norte.

Hoje, Arkhanguelsk deixou de ser o principal porto marítimo da Rússia e não opera mais para o comércio com o exterior. No entanto, desde o século 18 e até hoje, a cidade desempenha um papel crucial na organização de expedições científicas para o Ártico.

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