Por que os limpadores de chaminés eram temidos e valorizados na Rússia tsarista?

Museu Regional de Arte de Ulianovsk Firs Juravlev. Varredor de chaminés. Por volta de 1875
Museu Regional de Arte de Ulianovsk
Esta profissão surgiu na Rússia no início do século 18, juntamente com o uso generalizado de fogões com chaminés. Sua principal tarefa, a de limpar chaminés e dutos de ventilação, era uma questão vital de segurança e sobrevivência.

Durante o reinado do imperador Paulo 1º, havia uma piada comum em São Petersburgo: “Aí vem um porco de Gátchina, todo sujo!”. Até as crianças sabiam que se tratava de um limpador de chaminés.

Era fácil avistar um limpador de chaminés nas ruas da Rússia pré-revolucionária, assim como em outros países: com o rosto sujo de fuligem, uma roupa preta funcional, muitas vezes com colarinho ou cinto branco. Com o tempo, uma cartola preta alta também se tornou um atributo indispensável.

Este último acréscimo ao traje era uma forma de zombar a aristocracia, mas a cartola provou ser útil: ela podia ser usada para guardar lápis e pequenas ferramentas. Uma grande pá de cinzas, por sua vez, pendia do cinto do limpador, enquanto um rolo de corda com uma bola pesada de ferro fundido na ponta, usado para desobstruir bloqueios persistentes, vinha pendurado no ombro. E tudo isso era complementado por escovas em varas dobráveis, raspadores e um saco de fuligem.

Sputnik Limpador de chaminés de Moscou em 1913
Sputnik

O trabalho em si exigia preparo físico excepcional: apenas um homem ou adolescente magro, porém forte e ágil, conseguia se embrenhar pelas estreitas chaminés. Era um trabalho árduo, sujo e perigoso: eles tinham que escalar telhados em qualquer clima e descer por espaços apertados e enfumaçados.

Não é de se surpreender que a profissão frequentemente atraísse homens das classes mais baixas das cidades e ex-camponeses em busca de trabalho. Também havia uma divisão: limpadores de chaminés ‘livres’, que trabalhavam para empreiteiras privadas; e ‘estatais’, que trabalhavam para prefeituras e faziam manutenção de prédios governamentais.

Apesar do baixo status social e das restrições associadas à sujeira (segundo relatos, eram até proibidos de andar nas calçadas), os limpadores de chaminés eram cercados por uma aura mística no imaginário popular: trabalhavam entre o céu e a terra, com o fogo e suas consequências. Encontrar um deles era considerado um sinal de sorte, sobretudo antes de um evento importante. Para “aproveitar” essa sorte, as pessoas tocavam nos botões brilhantes de seu uniforme.

Galeria Nacional da Escócia Limpador de chaminés. Fotografia de William Carrick, década de 1860
Galeria Nacional da Escócia

Além do mais, a profissão estava associada a grandes riscos: quedas frequentes de telhados molhados ou congelados e doenças pulmonares ocupacionais causadas pela inalação constante de poeira de fuligem encurtavam significativamente a vida dos limpadores de chaminés. Por outro lado, o trabalho era bem remunerado. Em meados do século 19, limpar 14 chaminés custava 1 rublo de prata, e um limpador de chaminés podia ganhar até 30 rublos por mês – o suficiente para comprar 68 quilos de carne, por exemplo. Em São Petersburgo, eles também tinham livre acesso aos balneários.

Com o desenvolvimento do aquecimento central, a procura por limpadores de chaminés diminuiu bastante, mas a profissão não desapareceu por completo. Os profissionais modernos, assim como séculos atrás, usam pesos, cordas e escovas, porém, hoje complementam esse arsenal com câmeras de vídeo e tecnologia de computador para análise e inspeção. A grande diferença é que eles não precisam mais subir pelas chaminés.

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