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Por que a rainha Elizabeth 2ª premiou um espião soviético?
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Este homem tinha tudo: uma enorme mansão, uma coleção de carros luxuosos, milhões de libras e até um diploma assinado pessoalmente pela rainha Elizabeth 2ª. Mas, surpreendentemente, ele não era um aristocrata britânico, e sim um oficial da inteligência soviética.
Serviço secreto contra a majestade
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Aos 32 anos de idade, Konon Molódi foi enviado ao Reino Unido em 1954 sob disfarce de um canadense, Gordon Lonsdale. Antes disso, porém, o oficial da inteligência soviética participou da Segunda Guerra Mundial, estudou direito em Moscou, completou um treinamento especial na escola de inteligência e viveu em San Francisco, onde adquiriu um excelente conhecimento de inglês.
"Ele é um homem sem nenhuma caraterística especial ou nacional. Ele pode facilmente se passar por inglês, escandinavo, alemão, eslavo ou francês”, escreveu sobre Molófi o jornalista Leonid Kôlossov, que era seu amigo.
A tarefa de Molódi era se infiltrar nos círculos militares britânicos para recolher informações sobre a Marinha e o desenvolvimento de armas bacteriológicas.
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O espião milionário
Para justificar sua posição legal no Reino Unido após se formar na universidade, o “canadense” Lonsdale decidiu abrir um negócio e comprou várias máquinas de vendas automáticas. “Minhas máquinas vendiam cadernos, água, vinho, canetas, sanduíches, aspirina... Tudo", relatou Molódi.
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Inicialmente, a KGB tinha que cobrir constantemente as perdas do empresário, mas, com o tempo, as coisas começaram a correr bem. Konon Molódi chegou a ser coproprietário da empresa que produzia as máquinas.
Em 1959, a carreira do oficial de inteligência deslanchou. Um de seus funcionários quis lhe mostrar a invenção de seu pai - um alarme de carro com bloqueio, chamado de "vigia do carro". Molódi gostou da invenção e logo encontrou investidores para lançar sua produção.
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O alarme começou a gerar muito lucro e, em 1960, recebeu a Grande Medalha de Ouro na exposição internacional de Bruxelas. Foi assim que, por sua contribuição para o desenvolvimento tecnológico do Reino Unido, a rainha Elizabeth 2ª concedeu a Gordon Lonsdale um diploma honorário.
O espião soviético se tornou uma das pessoas mais ricas do Reino Unido e proprietário de quatro empresas de produção de máquinas de vendas, comprou oito carros luxuosos, uma mansão nos subúrbios de Londres e vários apartamentos nos melhores hotéis da capital inglesa.
Fracasso
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A riqueza não impediu o oficial soviético de cumprir suas obrigações com a inteligência. Por meio de funcionários civis recrutados da base naval de Portland, onde ficava o secreto Centro de Pesquisas da Marinha Real, ele obteve informações extremamente valiosas para Moscou.
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Os agentes na Inglaterra forneceram a Lonsdale mais de 17 mil arquivos secretos sobre o estado da marinha britânica e as perspectivas de seu desenvolvimento. Os dados foram enviados para institutos e escritórios de engenharia soviéticos que criaram, por exemplo, sonares na base dos desenvolvimentos britânicos.
No entanto, foi por causa de um dos agentes que a missão de Molódi acabou falhando. A contraespionagem britânica do Mi-5 descobriu um dos agentes soviéticos e, em 7 de janeiro de 1961, Molódi foi detido durante reunião com informantes.
Molódi se recusou a cooperar e foi condenado a 25 anos de prisão. Três anos depois, ele foi trocado pelo espião inglês Greville Wynn, capturado pela KGB. Em abril de 1964, Konon voltou a Moscou, para sua esposa e filhos, que nada sabiam sobre as aventuras de Molódi nas terras da rainha.
Em Moscou, Konon Molódi começou a treinar novos oficiais de inteligência e participou da criação do filme soviético "Temporada Morte", parcialmente baseado em sua biografia. No entanto, ele nunca deixou de sonhar em voltar a servir à inteligência e quis até mesmo fazer uma cirurgia plástica para poder voltar à ativa.
Seus planos, no entanto, não estavam destinados a se tornar realidade. Molódi morreu em 11 de outubro de 1970, de um ataque cardíaco, quanto tinha apenas 48 anos de idade.
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