As 10 principais obras do clássico pintor russo Vassíli Surikov
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1. “Vista do monumento a Pedro, o Grande, na Praça do Senado, em São Petersburgo” (1870)
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Surikov nasceu na cidade de Krasnoiarsk, na Sibéria Oriental, e se apaixonou pela pintura ainda na infância. A família não tinha dinheiro para enviar o filho para estudar na capital, na principal instituição artística do país, a Academia de Artes de São Petersburgo, e o menino se formou pela escola distrital e conseguiu um emprego no governo provincial.
Por um acaso do destino, porém, o filantropo e minerador de ouro de Krasnoiarsk, Piótr Kuznetsov, viu os desenhos de Vassíli e decidiu pagar pela educação de Surikov na Academia de Artes de São Petersburgo. Foi Kuznetsov quem adquiriu a primeira obra de peso do artista: “Vista do monumento a Pedro, o Grande, na Praça do Senado, em São Petersburgo”.
2. "Bom Samaritano" (1874)
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Como todos os estudantes da Academia de Artes de São Petersburgo, Surikov começou com pinturas dedicadas a assuntos bíblicos. O quadro “Bom Samaritano” retrata o momento da parábola em que o Bom Samaritano se inclinou sobre um homem em perigo para ajudá-lo. Surikov pintou a paisagem desértica a partir de seus esboços das quentes estepes de verão do sul da Sibéria.
Pela pintura, o artista recebeu a pequena medalha de ouro da Academia de Artes e presentou com o quadro seu patrono, Kuznetsov, como forma de agradecimento.
3. “A Manhã da Execução dos Streltsi” (1881)
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Esta pintura tem 2,1 x 3,7 metros e foi a primeira obra de Vassíli Surikov sobre a história russa – além de sua primeira tela de grande formato exibida ao público.
A pintura foi apresentada pela primeira vez na 9° Exposição dos Itinerantes, em 1881, em São Petersburgo. O mais famoso colecionador de arte russo de todos os tempos, Pável Tretiakov, levou-a diretamente da exposição para sua coleção.
Surikov retratou um dos momentos decisivos da história russa. Em 1698, enquanto Pedro, o Grande, estava na Europa, quatro regimentos de “streltsi” (antigas unidades militares russos que faziam parte do exército) organizaram um motim. O tsar então expressou uma forte reação à revolta.
Pedro viu o levante não como um protesto social e econômico, mas como uma tentativa de golpe de Estado por parte de sua irmã e ex-regente, a tsarevna Sofia. Após serem torturados, 799 “streltsi” foram executados publicamente — alguns deles, em Moscou, na Praça Vermelha.
Surikov retrata nesta pintura o início da manhã antes da execução dos “streltsi”, no outono de 1698. Os eventos ocorrem na Praça Vermelha, em Moscou. Os condenados são conduzidos a uma forca que está diante do muro do Kremlin. Uma multidão heterogênea e desarticulada, composta por “streltsi” (vestidos com camisas brancas da morte), suas famílias e simples espectadores, contrasta com a linha uniforme dos soldados do novo regimento de Pedro e do próprio imperador.
"Não retratei sangue no quadro, e nele a execução ainda não começou", afirmou Surikov. O artista, propositalmente, não retratou na trama da execução um único homem enforcado.
Leia uma análise detalhada deste quadro de Surikov aqui.
4. “Aleksandr Danílovitch Ménchikov com sua família” (1883)
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Esta pintura também foi recebida com grande entusiasmo na Exposição dos Itinerantes e foi imediatamente adquirida por Tretiakov. Neste quadro Surikov descreve outro episódio da história russa, quando o outrora mais influente camarada de armas do imperador Pedro, o Grande, e segunda pessoa mais importante da Rússia, Aleksandr Menchikov, após a morte de seu patrono, de repente acabou exilado na Sibéria.
Surikov se interessou pela história da queda de Ménchikov, que não se curvou mesmo diante de tantas humilhações. Na tela, o membro da nobreza surge imponente, mesmo sentado em uma pequena cabana na Sibéria, impossibilitado de sair na rua por causa da neve e do mau tempo.
O artista teve a ideia para este quadro espontaneamente enquanto esperava, com a família à mesa, o fim de uma forte chuva. Foi quando a imagem de Ménchikov lhe veio à mente, viva e cheia de detalhes.
A modelo para a filha de Menchikov, sentada a seus pés, foi a esposa de Surikov, Elizaveta.
5. “A Boiarina Morozova” (1887)
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Esta pintura causou sensação e atraiu grande interesse em 1887, quando foi exibida pela primeira vez. Seus contemporâneos fizeram comentários controversos sobre essas pinturas históricas, mas todos concordavam em um ponto: elas eram um reflexo realista e incrivelmente talentoso da “Velha” Rússia dos tempos pré-petrinos, com toda a sua autenticidade.
Mas como um artista do final do século 19 poderia ser tão preciso? O fato é que Vassíli Surikov cresceu na Sibéria, onde viviam muitos Velhos Crentes. Na época, eles ainda eram legalmente aceitos pela sociedade e eram descendentes dos Velhos Crentes que foram exilados no século 17, por causa de sua compreensão da fé depois do Cisma. Foi lá que Surikov conheceu a história de Morozova, considerada pelos Velhos Crentes sua santa e mártir.
Na década de 1650, o Patriarca Nikon iniciou as reformas que causaram um Cisma da Igreja Russa. Embora o tsar tenha apoiado as mudanças, não foram todos os nobres que compartilharam dessa posição – este era o caso de Morozova.
Assim ela passou a integrar o grupo dos Velhos Crentes, ou seja, a ser uma protestante da Igreja oficial.
Junto com sua irmã, a boiarina foi algemada (o que era impensável para uma mulher nobre na época) e transferida para um mosteiro em Borovsk, nos arredores de Moscou. Pela proximidade com membros da nobreza, incluindo gente da família real, ela não foi queimada viva, mas acabou compelida a morrer de inanição.
Surikov procurou protótipos para esse quadro em mosteiros e cemitérios, e passou muito tempo fazendo esboços. O protótipo de Morozova foi a tia de Surikov .
Leia uma análise mais detalhada desta obra-prima de Surikov aqui.
6. “A Captura da Fortaleza da Neve” (1891)
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Em 1878, Surikov, aos 30 anos de idade, casou-se com Elizaveta Chara, uma bela nobre que era 10 anos mais nova e falava russo com um leve sotaque francês. O artista estava loucamente apaixonado e Elizaveta deu à luz duas filhas. Mas ela tinha uma saúde muito frágil e sofria de reumatismo e problemas cardíacos e, cerca de 10 anos após o casamento, morreu, deixando Surikov em desespero. Segundo a filha do artista, ele chorava, lia a Bíblia e ia constantemente ao cemitério.
“A captura da fortaleza de neve” foi a primeira pintura de Surikov após a longa depressão. Brilhante e alegre, este quadro difere de suas sombrias pinturas históricas. Ele tinha observado a tradição de capturar fortalezas de neve na Sibéria e desenhou seus parentes e conhecidos no quadro. Por esta pintura, Surikov recebeu a medalha de bronze na Exposição Internacional de Paris em 1900.
7. “A Conquista da Sibéria por Ermak Timofeievitch” (1895)
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A maior tela de Surikov (2,85 x 5,99 metros) reúne os dois principais interesses do artista: os cossacos e a Sibéria. O artista procurava protótipos dos cossacos nas cidades do rio Don, pintou tártaros na região de Khakássia e encontrou uma paisagem para a pintura na Sibéria.
A obra foi apresentada na Exposição dos Itinerantes e foi altamente elogiada por outro artista russo, Iliá Répin. Surikov já havia concordado com Tretiakov sobre a venda do quadro, mas o imperador Nicolau 2º cravou sua opinião: “esta pintura deveria ser nacional e estar no Museu Russo”. Foi assim que o tsar a comprou por uma quantia recorde para a arte russa: 40 mil rublos. Surikov presenteou a Tretiakov uma pequena cópia do quadro.
8. "Exército de Suvorov Cruzando os Alpes em 1799” (1899)
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Este quadro é dedicado ao 100º aniversário da campanha militar de Suvorov contra os franceses. Nele, o comandante de 70 anos parece um verdadeiro herói popular em um cavalo branco, enquanto seus soldados descem rapidamente de montanhas. A pintura, que retrata de forma vantajosa o glorioso passado militar nacional, também foi comprada pelo imperador Nicolau 2º.
Surikov fez uma verdadeira imersão nos estudos para criar esta obra, indo à Suíça para fazer esboços e estudando minuciosamente os uniformes militares.
No entanto, a imagem contém algumas divergências com a verdade histórica: em particular, o especialista em pintura de batalhas Vassíli Verescháguin observou que o cavalo nunca teria se aproximado tanto de um penhasco e os soldados deviam ter tirados suas baionetas durante a descida.
9.“Stepán Rázin” (1906)
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Uma das últimas e maiores obras de Surikov retrata o jovem chefe cossaco Stepán Rázin, que liderou uma grande rebelião contra a burocracia da nobreza e dos tsares no sul da Rússia entre 1670 e 1671, navegando pelo Volga após um ataque bem-sucedido. Enquanto seus camaradas bebem e se divertem, Rázin fica sentado sozinho, pensativo e triste, cercado pelos tesouros saqueados.
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Surikov nasceu em uma família cossaca, então esse assunto era muito importante para ele. Acredita-se que Rázin é parcialmente um autorretrato do artista. No primeiro esboço, Surikov também retratou a princesa persa com quem Rázin voltava da campanha.
10. “A Visita da Tsarevna ao Convento” (1912)
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Surikov se inspirou para esta pintura no livro de Ivan Zabélin “Vida Doméstica das Tsarinas Russas". As mulheres da família real da Rússia eram verdadeiras eremitas que passavam a vida inteira atrás de muros e torres.
Além disso, se elas não encontrassem um par digno para o casamento, só teriam um destino: o mosteiro. O rosto corado da trsarevna (princesa) e seus trajes e “kokochnik” (tiara tradicional russa), bordados com ouro e pedras preciosas, destacam-se nitidamente contra um fundo de trajes negros das freiras.
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