
Como Lev Tolstói achou o amor?

Tolstói começou a sonhar com a vida familiar aos 15 anos. Sua infância não foi tranquila. Ele não se lembrava de sua mãe, que morreu quando ele não tinha nem dois anos de idade. Seu pai faleceu quando ele tinha nove anos, daí o desejo constante de recriar a família.
A caminho do Cáucaso, em 1852, ele escreveu à sua tia, Tatiana Iorgólskaia, que acabara assumindo a responsabilidade de sua criação: “Vou me permitir sonhar com outra coisa. Sou casado. Minha esposa é gentil, carinhosa e vos ama tanto quanto eu. Nossos filhos lhe chamam de “avó”... Assuma o papel de avó, eu assumo o papel de pai, minha esposa assume o papel de mãe, nossos filhos assumem os nossos papéis atuais”.

Tolstói idolatrava sua mãe, embora não tivesse um único retrato dela. Ele queria, porém, encontrar uma esposa que seria igualmente bonita e perfeita.
Após retornar a São Petersburgo, Tolstói conheceu várias noivas jovens, mas não encontrou o ideal que buscava. Em Moscou, visitou a casa de Andrêi Bers, médico da corte de origem alemã. Sua esposa Liubov Bers era sua amiga de infância. A família teve três filhas: Elizaveta, Sofia e Tatiana. Tolstói se apaixonou por essa família e disse à sua irmã Maria que, se algum dia se casasse, certamente o faria na família Bers. Ele não estava interessado na irmã mais velha, que já estava em idade de casar, mas em Sofia Bers, de 17 anos. O autor até escreveu em seu diário: “Parece um verdadeiro sentimento de amor!”.

Em agosto de 1862, Tolstói encontrou os Bers na propriedade Ívitsi, onde, na mesa de jogo, escreveu uma frase para Sofia que consistia apenas de letras iniciais de palavras russas: “ v. m. e p. s. s. f. n. m. m. s. e n. s.”. Sofia Andreevna decifrou esta inscrição: “Sua juventude e necessidade de felicidade me lembram vividamente da minha velhice e da impossibilidade de felicidade”. Ele então se apaixonou e escreveu em seu diário: “Estou louco, vou me matar se isso continuar [...] Não dormi até as três da manhã, como um garoto de dezesseis anos, sonhei e sofri”. No final, ele escreveu uma carta para Sofia, e, após três dias de indecisão, a entregou à moça: “Diga-me, como um homem honesto, você quer ser minha esposa? Somente se puder dizer 'sim' do fundo do seu coração. Se tiver uma sombra de dúvida, diga ‘não’. Pelo amor de Deus, pergunte-se bem”. Sofia, depois de ler a carta no quarto de sua mãe, foi até Tolstói e respondeu: “Claro que sim”.

Depois de receber a resposta, Tolstói insistiu que o casamento acontecesse imediatamente, em uma semana. Em 23 de setembro, o matrimônio ocorreu na Igreja da Natividade da Virgem Maria, no Kremlin. Tolstói, no entanto, se atrasou porque não conseguiu encontrar uma camisa branca limpa. Esse episódio se tornou parte de seu romance ‘Anna Kariênina’.

Depois do casamento, ele levou a esposa para Iásnaia Poliana, a propriedade que havia herdado. Lá, escreveu em seu diário: “Que felicidade incrível! Não é possível que tudo isso acabe apenas com a vida!”.

Esta reportagem é uma versão abreviada de um artigo originalmente publicado em russo na revista “Rússki Mir”, baseado na conversa entre o correspondente da revista com a funcionária do Museu Estatal Lev Tolstói, Olga Golovánova