
Um dos balés mais exibidos no mundo, ‘O Lago dos Cisnes’ celebra 146 anos
Em janeirode 1895, o Teatro Mariinski, em São Petersburgo, exibiu pela primeira vez olendário balé ao som de Tchaikovsky. A versão de Marius Petipa e Lev Ivanov nãofoi a primeira deste balé, mas foi justamente ela que mudou a atitude do mundo emrelação à obra do grande compositor.
Ao longode 120 anos, o “O Lago dos Cisnes” se consagrou como um dos balés maisencenados em todo o mundo. Existem apresentações com final feliz, final trágicoe com diferentes leituras dos personagens. No espetáculo do britânico MatthewBourne, por exemplo, os cisnes são todos homens. Mas a versão do Mariinskicontinua sendo vista como um “clássico do gênero”.
O famosocoreógrafo George Balanchine se referiu ao espetáculo como o “cartão de visitado balé russo”. Segundo ele, “todos os balés deveriam se chamar Lago dos Cisnes– isso garantiria uma venda animada de ingressos e sucesso entre o público”.
Primeiros passos
Oprimeiro “O Lago dos Cisnes”, coreografado por Wenzel, foi apresentado aopúblico em março de 1877, no Teatro Bolshoi. O espetáculo foi bem recebidopelos espectadores e acabou sendo retirado do repertório.
“Tinhamuitas cenas de pantomima. Odette contava detalhadamente o seu destino, falavada madrasta malvada que era uma bruxa. Pessoas que assistiram ao espetáculofalavam da pobreza da sua dança. Nas críticas era possível perceber que o musicalprevalecia claramente sobre a coreografia”, conta a editora do departamentoeditorial do Teatro Mariinski, Olga Makarova.
Noinício de década de 1890, o Maître deBallet Marius Petipa reescreveu o libreto para o Mariinski juntamente comTchaikovsky, e a partitura, em colaboração com o compositor Riccardo Drigo. Aencenação foi feita em parceria com Lev Ivanov.
Cenário do balé "O Lago dos Cisnes" em 1895
Teatro Estatal Acadêmico MariinskiA estreia, cinco anos depois, aconteceu no dia do jantar de gala beneficente promovido pela bailarina Pierina Legnani. Na ocasião, o seu par foi Pável Gerdt, que durante anos dançaria o personagem de Siegfried no palco do Mariinski.
O espetáculo moderno difere da primeira produção. No final do século 19 os homens na dança clássica não realizavam saltos complexos – os dançarinos se limitavam principalmente a caminhar pelo palco, criando poses elegantes e, quando necessário, amparando a bailarina. As bailarinas também eram diferentes: tinham o corpo mais coberto e não podiam levantar muito a perna quando estavam no palco, pois era considerado indecente.
Final feliz
Nos anos 1930, a bailarina e pedagoga russa Agrippina Vaganova decidiu produzir “O Lago dos Cisnes” com um tom social, mudando completamente o libreto. Em sua versão, Rothbart não era um malvado feiticeiro, mas um barão arruinado à procura de um bom partido a filha. No final, Odette morre com um tiro disparado por Rothbart, e Siegfried se suicida.
Galina Ulánova no papel de Odette
Teatro Estatal Acadêmico MariinskiEm 1950 foi lançada uma nova versão pelo coreógrafo Konstantin Sergueiev – e, pela primeira vez, com final feliz. Se até então as ondas agitadas do lago engoliam Odette e Siegfried na última cena, o novo Siegfried vencia o mago em um duelo, dando fim ao mal.
Sergueiev manteve quase inalterada a coreografia de Petipa e Ivanov, mas mesmo assim conseguiu refletir as conquistas do balé moderno. É esta a produção que continua sendo apresentada no Mariinski ainda hoje – e já foi exibida 1.757 vezes no teatro de São Petersburgo.
Símbolo do golpe de 1991
Para os moradores do espaço pós-soviético, o balé “O Lago dos Cisnes” se tornou um dos símbolos do golpe de 1991. No dia 19 de agosto daquele ano, tocou apenas música clássica na rádio, enquanto a televisão exibiu o dia todo diversas gravações do principal balé da União Soviética. Até então, isso acontecia apenas quando morria o governante do país, mas naquele dia o motivo era outro: um golpe de Estado.
As tentativas de tirar Mikhail Gorbatchov à força do cargo de presidente da URSS e o descumprimento do “Acordo sobre a União de Estados Soberanos” foram ocultados dos cidadãos soviéticos ao som de Tchaikovsky.
Publicado originalmente pela agência Tass
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