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O Russia Beyond recomenda: “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov
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Anton Tchekhov é, provavelmente, o único escritor russo que não gosta de drama. Ao contrário de Tolstói e Dostoiévski, ele descreve tudo em um tom de calmaria, escondendo a dramaticidade nas entrelinhas.
Apresentamos abaixo um resumo deste clássico que descreve a destruição do antigo modo de vida nobre:
Alerta de spoiler!
A protagonista Ranêvskaia é uma nobre que vive na França há anos com seu amante. Após gastar todo o seu dinheiro, ela eventualmente vai à falência. Ela então retorna à Rússia acompanhada da filha de 17 anos.
Sua enorme propriedade foi hipotecada, porém Ranêvskaia gastou o empréstimo e não pagou os juros. Com isso, o banco coloca a propriedade, incluindo o enorme jardim de cerejeiras da família, em leilão.
Ranêvskaia fica desesperada. Seu irmão Leonid Gaiev tenta ajudá-la e sugere comprar a sua propriedade, mas não tem dinheiro suficiente para isso.
Um amigo da família chamado Lopakhin faz uma visita. Filho de um ex-servo, ele agora é um rico comerciante e um homem de visões progressistas. Lopakhin sugere que Ranêvskaia corte o enorme jardim de cerejeiras e divida a terra em lotes, para alugá-los separadamente e ganhar dinheiro com isso.
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Sendo uma sonhadora distraída, ela recusa o plano. Ranêvskaia diz a Lopakhin que este jardim de cerejeiras é a relíquia de família, que todos os seus ancestrais, ela e seus filhos cresceram nesse jardim e que ela simplesmente não consegue ver sua vida sem ele.
Quando chega o dia do leilão, para surpresa de todos, Lopakhin compra a propriedade com o jardim de cerejeiras. Ranêvskaia retorna a Paris para gastar o dinheiro que a sogra deu à filha dela.
A peça termina ao som de machados cortando cerejeiras.
O que há por trás da peça?
Essa peça incrivelmente popular, escrita em 1903, ou seja, 14 anos antes da revolução bolchevique, fala sobre a destruição do antigo modo de vida nobre.
O autor mostra todas as pessoas nobres como sonhadores que perderam a conexão com a vida real. Enquanto isso, o filho de um ex-servo não é apenas um homem rico e bem-sucedido, mas também uma pessoa realista. Ele fala sobre coisas que ninguém quer ouvir. E, eventualmente, vence.
A nova vida e o progresso triunfam sobre o jardim de cerejeiras que não traz dinheiro, apenas memórias melancólicas.
O som de machados cortando a madeira é, na verdade, um símbolo não só de como a vida antiga está sendo destruída, mas também como os nobres são redundantes nesta nova vida e como o progresso triunfa.
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A peça foi encenada pela primeira vez em 17 de janeiro de 1904 no Teatro de Arte de Moscou em uma produção dirigida por Konstantin Stanislávski. Tchekhov caracterizava a obra como uma comédia com elementos da farsa, mas Stanislávski insistia em dirigi-la como uma tragédia.
Desde a primeira produção no Teatro de Arte de Moscou, essa peça tem sido traduzida e adaptada para diversas línguas e produzida por todo o mundo, tornando-se um clássico da literatura dramática. Foi interpretada por inúmeros diretores teatrais, entre eles Charles Laughton, Peter Brook, Andrei Serban, Eva Le Gallienne, Jean-Louis Barrault, Tyrone Guthrie, Giorgio Strehler e Ajitesh Bandopadhyay.
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