
O que é um ‘general de casamento’ e para que ele serve?

Entre comerciantes e a pequena burguesia, havia de fato a tradição de convidar um general aposentado para o casamento (mediante uma taxa adicional). A presença de um convidado ilustre conferia grande importância ao evento aos olhos dos presentes. Isso significava que os anfitriões seriam considerados pessoas respeitáveis, que circulavam nos círculos certos e tinham conexões úteis. O evento familiar deixava de ser trivial e adquiria relevância social.
O Dicionário Explicativo da Grande Língua Russa Viva (compilado e editado pelo lexicógrafo Vladímir Dal) menciona “generais confeiteiros”. No final do século 19, o príncipe Volkonski alugou sua mansão em Moscou para diversas festividades e comemorações. Estas festas eram frequentemente organizadas por confeiteiros. Foi assim que Vladímir Giliarovski as descreveu: “Esses banquetes eram organizados por confeiteiros de todos os tipos: com pratos quentes e frios, com generais civis e militares, com ‘cavalaria’ e sem ‘cavalaria’. Militares com várias medalhas no peito, às vezes até com a faixa cruzando o ombro, eram muito valorizados e frequentavam as casas de comerciantes ricos que, é claro, não eram ‘nobres’, já que os notáveis tinham seus próprios palácios de banquetes e ‘seus’ próprios generais’.”
Essa tradição também foi observada por Anton Tchékhov, que escreveu: “Generais e conselheiros de Estado são necessários para os comerciantes. Sem eles, não pode haver casamentos mercantis, banquetes nem conselhos de comerciantes”. Em 1884, o autor publicou o conto humorístico “Um Casamento com um General”. Seu protagonista, um humilde escriturário, decide convidar um contra-almirante aposentado, tio de um amigo, para o casamento.
Atraído pela promessa de vinho e lagostas de Tsimliansk (cidade russa), o almirante de uniforme e condecorações, bem como calças com galões dourados, comparece ao jantar festivo.
A mãe do noivo o examina com ceticismo: “Encantada, Excelência... Mas que falta de porte... um pouco desleixado... Aham... Ele não parece nada severo, nem usa dragonas... Aham... Bem, não vamos rejeitar o que Deus nos deu… Que seja, adiante, Excelência. Graças a Deus, pelo menos ele tem muitas condecorações…”.
Cinco anos depois, em 1889, Tchékhov escreveu a peça “O Casamento”, retomando a mesma ideia. Nela, chega à celebração “um general de verdade, com toda a pinta, já idoso, tem cerca de oitenta, ou talvez noventa anos…”, embora, na realidade, ele não passasse de um capitão de segunda classe meio surdo.
A peça, encenada no Teatro Aleksandrinski em São Petersburgo, se tornou muito popular — e a expressão “general de casamento” passou a designar uma pessoa de prestígio aparente que o possui apenas no nome.
A Janela para a Rússia está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br