Como Dostoiévski criou o primeiro ‘blog’ russo

Kira Lissítskaia (Foto: AI/chatgpt; Domínio público)
Kira Lissítskaia (Foto: AI/chatgpt; Domínio público)
“Isso é uma revista ou um livro?” Os primeiros leitores da nova mídia ficaram perplexos, sem entender muito bem o que esperar da ideia do escritor. Ninguém sabia o que era um blog pessoal na segunda metade do século 19 – uma melhor compreensão do assunto só viria 150 anos depois.

Tudo começou em 1873, quando Fiódor Dostoiévski, que havia sido nomeado editor da revista “Grajdanin” (“Cidadão”), decidiu publicar uma coluna autoral intitulada “Diário de um Escritor”. Com o tempo, trabalhar para a revista tornou-se cansativo, e a ideia de falar regularmente sobre as coisas do mundo parecia tentadora. Foi então que ele criou um formato que hoje seria conhecido como ‘blog de autor’ e passou a publicar uma revista mensal composta apenas por ele mesmo.

Domínio público
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Nos jornais, o anúncio sobre o lançamento foi o seguinte: “As assinaturas estão abertas para a publicação mensal de F. M. Dostoiévski, ‘Diário de um Escritor’. Cada edição conterá de uma folha e meia a duas folhas de letras miúdas (cerca de 80.000 caracteres), no formato de nossos jornais semanais. Cada edição será publicada no último dia do mês e vendida separadamente em todas as livrarias por 20 copeques. Aqueles que desejarem assinar a publicação anual completa antecipadamente se beneficiarão de um desconto e pagarão apenas 2 rublos (excluindo frete e manuseio), ou 2 rublos e 50 copeques com frete ou entrega em domicílio”. Cada edição teve uma circulação de aproximadamente 6.000 cópias. Com isso, o projeto não só se mostrou autossustentável, mas também proporcionou ao autor uma renda estável.

Domínio público Retrato de Fiodor Dostoiévski, por Vassili Perov, 1872.
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O “Diário de um Escritor” foi publicado mensalmente em 1876-1877 e em 1880-1881. O autor descreveu o formato da seguinte maneira: “O que me marcou pessoalmente em um mês”. Nesse sentido, as páginas do diário abordavam  temas diversos – crianças e infância, o desenvolvimento da ciência, espiritualismo, as relações entre a Rússia e a Europa, questões de identidade nacional, suicídio, problemas da juventude, a libertação dos camponeses, a proclamação da República Francesa, a Questão Oriental etc. – com igual detalhamento. Entre outras coisas, também eram publicadas resenhas de obras literárias e de ficção. E tudo isso escrito por um único autor – o próprio Dostoiévski.

A iniciativa se tornou popular e o autor recebia cartas de leitores de toda a Rússia. Dostoiévski as tratava com grande atenção e respondeu a muitas delas. Essas respostas foram publicadas no “Diário de um Escritor” e também lembram os comentários em um blog. A última edição do “Diário” saiu em janeiro de 1881 – o escritor morreu no mês seguinte.

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