Cinco obras de Ivan Búnin, o primeiro Nobel russo, que você precisa conhecer
“O Senhor de São Francisco” (1915)
Um rico cavalheiro anônimo viaja a bordo do navio “Atlântida” rumo à Itália. Ao chegar à ilha de Capri, ele morre repentinamente. Seu corpo se torna um fardo para todos, inclusive para a família, que não sabe o que fazer. Na volta, ele viaja não mais em uma cabine de primeira classe, mas no fundo do porão, entre as máquinas roncando de modo sinistro.
“O Amor de Mítia” (1924)
Kátia está estudando teatro, começa a amadurecer e passa a ridicularizar o comportamento infantil do amado, Mítia. Dilacerado por ciúme e paixão, Mítia deixa Moscou e viaja para a aldeia, em busca de si mesmo. Lá entrega-se ao prazer carnal com uma camponesa em uma cabana, o que o atormenta ainda mais. Kátia lhe envia uma carta anunciando que o deixou e está com um diretor de teatro. Mítia, desesperado, comete suicídio.
O filósofo e amigo de Búnin, Fiódor Stepún, escreveu que em “O Amor de Mítia” o autor “não somente mostra um estudante perdido em seus sentimentos, mas revela a tragédia de todo amor humano”. O texto pode ser considerado uma narrativa erótica de profundo realismo psicológico.
“Dias Malditos” (1925–1926)
Com ódio pelo bolchevismo e simpatia pelo movimento branco (forças contrarrevolucionárias que lutaram contra os vermelhos durante a Guerra Civil Russa), Búnin emigrou para a França em 1920.
A obra “Dias Malditos” é uma das mais impressionantes e conhecidas de Búnin; ficou proibida na URSS até a década de 1980, porque expressava esse desprezo pelos bolcheviques e decepção com a revolução:
“Será que muitos não sabiam que a revolução é apenas um sangrento jogo de troca de lugares, que sempre termina com o povo, depois de um breve banquete no lugar do senhor, voltando da frigideira para o fogo?”, lê-se em “Dias Malditos”.
“A Vida de Arsêniev” (1927–1933)
Segundo Búnin, foi esse romance, publicado em 1930 em Paris, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura, concedido pelo “rigor artístico com que desenvolve as tradições da prosa clássica russa”.
A obra narra a infância e juventude de Aleksêi Arsêniev e seu amor por Lika, uma jovem cuja família se opõe ao relacionamento. A menina foge de Arsêniev, ele tenta encontrá-la, mas seu pai esconde o seu paradeiro. Só mais tarde o protagonista descobre que Lika morreu meses antes — e pedira que ele não fosse avisado.
Muitos elementos da trama são autobiográficos: Búnin também teve uma companheira, Varvara, com quem viveu sem se casar. O romance evoca pessoas e lugares ligados à própria vida do autor.
O escritor russo Konstantin Paustóvski se referiu a “A Vida de Arsêniev” como uma das obras “mais admiráveis da literatura mundial”.
“Alamedas Escuras” (1938–1946)
Entre os contos mais célebres da coletânea “Alamedas Escuras” está “Segunda-feira Pura”, sobre um amor misterioso e encontros silenciosos de dois jovens da alta sociedade. No primeiro dia da Quaresma, chamado na ortodoxia de “Segunda-feira Pura”, a jovem pede ao protagonista que o deixe, dizendo que está indo embora. Dois anos depois, ele a vê entre as freiras de um convento em Moscou.
O próprio Búnin considerava “Alamedas Escuras” uma de suas melhores obras. Os contos foram adaptados para o teatro e o cinema e fazem parte do currículo escolar obrigatório na Rússia.
O primeiro conto da coletânea homônima foi publicado em 1938, em Nova York; os outros, escritos durante a Segunda Guerra Mundial, foram lançados em Paris.
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