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Como Lev Tolstói mudou o mundo e inspirou uma nova consciência social

Kira Lissítskaia (Foto: Getty Images)
Tolstói foi não apenas um gênio literário e o maior prosaísta da literatura russa, mas também um pensador que desafiou costumes, religiões e governos. Suas ideias sobre paz, moral, educação e ética pessoal anteciparam discussões que continuam atuais em todo o mundo. Compilamos as principais reflexões do escritor que, depois de sua morte, ganharam atenção mundial.

Vegetarianismo

Lev Tolstói com sua mulher, Sofia Andreevna
Legion Media

O autor de “Guerra e Paz” foi o primeiro vegetariano famoso na Rússia e via nessa escolha uma questão de ética e compaixão. “Minha alimentação consiste principalmente em mingau de aveia, que como duas vezes por dia com pão de trigo. Além disso, no almoço tomo schi [tradicional sopa russa de repolho] ou sopa de batata, [como] mingau de trigo-sarraceno, ou batatas cozidas ou fritas em óleo de girassol ou de mostarda, e [bebo] kompot [bebida caseira de frutas cozidas] de ameixas secas e maçãs. Minha saúde não apenas não se deteriorou, mas melhorou consideravelmente desde que deixei de consumir leite, manteiga e ovos, bem como açúcar, chá e café”, escreveu Tolstói.

O escritor adotou esse regime alimentar já em idade madura, depois dos 50 anos. O vegetarianismo foi uma consequência lógica de duas principais ideias do escritor: a abstinência como caminho para uma vida virtuosa e a rejeição à violência.

Condenação da pena de morte

Legion Media

O tema da pena de morte foi central em um conjunto de textos e artigos de Tolstói — entre eles “Não posso calar-me” (1908), “Sobre a lei da violência e a lei do amor” (1908), “Em que consiste a minha fé?” (1884) e outros escritos nos quais o autor analisou a inutilidade e a imoralidade da pena capital. Baseando-se na experiência histórica, ele insistia que a pena capital, como instrumento de punição, era inútil. Para ele, se existe algo capaz de impedir uma pessoa de cometer crimes é justamente a compreensão do mal que eles causam aos outros e a si mesmo.

Seus argumentos contra a pena de morte incluíam: a proibição de qualquer tipo de violência na religião cristã e o mandamento bíblico “Não matarás”; a degradação moral da sociedade, pois a pena de morte justifica o uso da força e das armas aos olhos do povo; a impossibilidade de reabilitação do condenado; o risco de executar um inocente; e a ineficácia desse método de intimidação, que muitas vezes transforma o executado em mártir.

Pacifismo

Oficial Tolstói
Legion Media

Sabe-se que, por quase cinco anos de serviço militar, o oficial Tolstói demonstrou grande competência: era um excelente cavaleiro, dominava a matemática, cumpria com excelência suas funções de artilheiro e apresentava iniciativas racionais. Por seu serviço diligente, foi condecorado com ordens e medalhas. Também foi três vezes indicado para receber a Cruz de São Jorge (uma das mais altas condecorações militares do Império Russo), mas, por circunstâncias diversas, nunca chegou a recebê-la de fato.

Em 1856, pediu demissão do exército. Com o passar do tempo, foi se tornando cada vez mais adepto do pacifismo. Sua famosa ideia de não resistência ao mal pela violência consolidou-se entre o final da década de 1880 e o início da de 1890. Tolstói começou a manter correspondência com pacifistas de vários países e, em 1884, escreveu o artigo “Em que consiste a minha fé?”. O resultado dessas reflexões foi a obra “O Reino de Deus está em vós, ou O cristianismo não como doutrina mística, mas como uma nova compreensão da vida”.

Pedagogia

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Outra ideia importante de Tolstói era a educação universal. Em sua propriedade, Iásnaia Poliana, fundou o que hoje chamaríamos de escola experimental, para os filhos de camponeses. Lá, ele próprio lecionava, junto a alguns professores que compartilhavam de seus princípios.

Assim como o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, Tolstói acreditava que a criança nasce pura, e que é a sociedade que a corrompe. Por isso, afirmava que os professores não deveriam educar as crianças à força. Em vez disso, os alunos deveriam ter liberdade para escolher o que lhes despertasse interesse. O papel do professor seria ajudar a desenvolver o que há de bom na criança.

Na escola criada por Tolstói, não havia programa rígido, as crianças se sentavam como quisessem, e o principal objetivo do professor era instigar nelas o interesse pelo aprendizado. Muitas das ideias pedagógicas do escritor se assemelham ao método desenvolvido posteriormente pela educadora italiana Maria Montessori, criadora de um sistema de ensino baseado na autonomia e na liberdade da criança.

Renúncia à propriedade privada

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Após a crise espiritual do início da década de 1880, quando o já mundialmente famoso escritor perdeu o sentido da vida, sua visão sobre a propriedade mudou radicalmente. Em 1891, abriu mão dos direitos autorais sobre as obras escritas e publicadas a partir de 1881. Também elaborou um projeto “comunista” para sua família: doar aos pobres a maior parte da renda e dos bens, e viver em simplicidade e do trabalho.

No entanto, seus planos encontraram forte resistência entre os familiares. Sua esposa chegou a prometer que iria até o imperador para lançar-se a seus pés e pedir que declarasse Tolstói insano, para tirar dele o direito de administrar seus bens. Em 1884, o escritor desistiu de lutar contra a família, repassou à esposa todos os assuntos patrimoniais e fez sua primeira tentativa de abandonar o lar.

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