Quem era a svakha, a casamenteira que decidia o destino das famílias russas?
Entre os nobres, o papel de svakha, ou seja, casamenteira profissional, era frequentemente desempenhado por parentes ou damas da alta sociedade, e os possíveis noivos e noivas podiam se conhecer em bailes. Os jovens da classe média ou trabalhadora conseguiam se aproximar sozinhos nos espaços urbanos — na igreja, no trabalho ou durante as festas populares. Já no ambiente fechado e tradicional dos comerciantes russos, a svakha era indispensável. Com raras exceções, as filhas de comerciantes eram proibidas de sair de casa, então, encontrar um noivo só era possível por meio de uma “agência matrimonial” — uma svakha.
A svakha era geralmente uma mulher de meia-idade, viúva, que conhecia bem a vida e as pessoas. Ela coletava e fornecia às famílias informações sobre possíveis noivos e noivas, equilibrando-se na linha tênue entre publicidade e credibilidade. Sobre uma noiva, não se podia dizer “doente”, mas “delicada”; não “pobre”, mas “de uma boa, embora modesta família — porém modesta e habilidosa”. Um noivo podia ser descrito como “alegre” em vez de “beberrão”. Em vez de “velho”, “respeitável e equilibrado”.
Entrar numa casa de comerciantes russos não era fácil para alguém de fora, e por isso as svakhas recorriam a diversos truques. As mais experientes faziam amizade com os empregados, arrancando das criadas e cozinheiras informações sobre o temperamento e os hábitos dos donos. Só depois disso, disfarçada de vendedora de rendas ou artigos de costura, ela conseguia entrar na casa já sabendo como causar a melhor impressão na dona.
A investigação das famílias exigia tempo e custava muito. Assim, as boas svakhas ganhavam bastante. Por exemplo, na peça “O Casamento de Balzamínov”, de Aleksandr Ostrôvski, dramaturgo russo do século 19 conhecido por retratar a vida e a moral da classe média urbana, uma svakha pede 2.000 rublos (quantia enorme para a época, equivalente a vários anos de salário de um trabalhador qualificado) e chegou até a firmar um contrato por escrito, para garantir o pagamento.
As informações obtidas permitiam à svakha orientar-se nos capitais das famílias, negociar o dote — um dos elementos-chave do acordo matrimonial — e conseguir as melhores condições possíveis.
Era também a svakha quem organizava as “smotríni”, ou seja, a primeira visita da família do noivo à da noiva. A noiva era vestida com esmero, sentava-se em um canto e devia demonstrar submissão e modéstia, sem erguer os olhos. A svakha dirigia todo o espetáculo, indicando o momento de levantar-se ou de caminhar para mostrar porte e saúde. Também atuava como uma espécie de consultora jurídica: garantia que o casamento fosse possível do ponto de vista da Igreja, assegurando, por exemplo, que o noivo não fosse bígamo.
O trabalho da svakha era não apenas lucrativo, mas também perigoso. Se o noivo ou sua família se sentissem enganados, a casamenteira poderia facilmente ser agredida. O risco de ficar não só sem pagamento, mas também com hematomas, fazia parte da profissão.
No fim do século 19, a sociedade russa mudou drasticamente, os jovens passaram a ter mais liberdade e podiam se conhecer diretamente, sem ajuda de intermediários. Assim, a profissão de svakha praticamente desapareceu.
No entanto, em ambientes patriarcais, por exemplo, em comunidades religiosas russas, as svakhas ainda existem e ajudam a celebrar uniões matrimoniais até hoje.
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