Como uma menina cega e surda se tornou uma importante cientista soviética

A. Vorotínski / Sputnik
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Para Olga Skorokhôdova, o mundo ao redor era de completa escuridão e silêncio. Porém, persistente e dedicada, usou todos os métodos disponíveis para conhecê-lo melhor, contribuindo para o desenvolvimento da ciência e para o combate ao preconceito em relação às pessoas com deficiência.

“Eu passei por escuridão e tempestades, eu estava procurando um caminho para a luz, para uma vida criativa e enriquecedora... E eu encontrei!” — esses versos foram escritos por Olga Ivánovna Skorokhôdova, professora, doutora em ciências, e autora de diversos livros e artigos científicos.

O mais surpreendente é que Olga obteve tamanho sucesso científico sendo completamente cega e surda.

Ela perdeu a visão aos seis anos de idade após sofrer de meningite. Por causa da doença, começou a ter problemas de audição também. Aos 14 anos, Olga ficou completamente surda.

Domínio público Olga Skorokhôdova
Domínio público

Após a morte da mãe, a menina foi enviada para uma escola especial para crianças cegas na cidade de Odessa (atual Ucrânia). Por causa da surdez e de problemas de equilíbrio, ela geralmente não tinha permissão para sair para a rua e quase sempre ficava dentro da escola.

No entanto, Olga começou a demonstrar uma personalidade forte na adolescência. Fugia da escola para o pátio, subia em árvores e cercas, caía e sofria constantemente com escoriações e hematomas.

“Tentava sempre estar mais perto das pessoas para que eu pudesse saber por elas o que estava acontecendo ao meu redor”, escreveu Skorokhôdova em um dos seus livros.

Uma chance para uma nova vida

Em 1925, Olga teve sorte: foi enviada a uma clínica para crianças surdocegas em Kharkov onde trabalhava o famoso defectologista e especialista na área de tiflopedagogia e pedagogia de surdos, Ivan Sokoliánski.

Domínio público Ivan Sokoliánski com sua aluna Iúlia Vinográdova, década de 1950.
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A primeira coisa que o professor fez foi ajudar a menina a recuperar a fala quase perdida. Com a ajuda do alfabeto dactilológico, do sistema Braille e de outros dispositivos especiais para cegos, ela começou a dominar o programa escolar.

A diligente e dedicada Skorokhôdova fez um progresso incrível nos estudos do mundo ao seu redor usando os métodos que estavam disponíveis para ela.

Boris Babanov / Sputnik
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“A luz e os sons são desligados. O que resta é o ar: seu movimento e a direção desse movimento, a temperatura, a saturação dos cheiros etc. Dessas sensações aparentemente pequenas e imperceptíveis, uma certa ideia harmoniosa do mundo ao redor emerge gradualmente”, escreveu.

A menina aprendeu o artesanato e a modelagem, estudou esculturas com os dedos, apaixonou-se por literatura e até entrou em correspondência com o famoso escritor soviético Maksim Górki.

O caminho para a ciência

Skorokhôdova queria entrar na faculdade de literatura, mas a Segunda Guerra Mundial arruinou todos os seus planos. Como resultado, em 1948 ela se tornou pesquisadora no Instituto de Pesquisa de Defectologia da Academia de Ciências Pedagógicas da URSS.

A. Vorotínski / Sputnik Olga com colega do Instituto de Defectologia, Aleksandr Mescheriakov.
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Olga trabalhou com questões psicológicas e do desenvolvimento de pessoas surdocegas, além de lutar contra preconceitos em relação às pessoas com deficiência, provando que com bons professores todos podem se tornar membros plenos da sociedade.

Em 1961, defendeu sua dissertação e recebeu o título de candidata em ciências pedagógicas (equivalente a um doutorado no Brasil). Treze anos depois, publicou o livro “Como percebo, imagino e entendo o mundo ao meu redor”.

Boris Babanov / Sputnik Assinatura de livros.
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Este trabalho reuniu todos os seus livros, artigos científicos e poemas de diferentes anos e se tornou uma grande contribuição para a ciência psicológica e pedagógica soviéticas. Em 1974, Skorokhôdova recebeu a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho (uma condecoração criada para honrar grandes obras e serviços prestados ao Estado e à sociedade soviéticos), após o qual Skorokhôdova continuou a trabalhar no Instituto de Defectologia. A cientista morou sozinha até a sua morte, aos 70 anos, em 1982.

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