GW2RU
GW2RU

O que está acontecendo na pintura “Duas Mães”, de Vladímir Makôvski?

Museu Regional de Arte de Samara
Os pintores itinerantes, ou seja, membros do movimento dissidente do final do século 19 que disseminaram o realismo na arte russa, enriqueceram a tradição pictórica com temas do cotidiano. A tela “Duas mães. A mãe biológica e a adotiva”, de Vladímir Makôvski, não é apenas um registro da vida cotidiana, mas também um estudo profundo sobre os dilemas humanos e as barreiras sociais da Rússia pré-revolucionária.

O pintor Vladímir Makôvski dedicava em suas obras muita atenção não apenas aos detalhes da vida cotidiana, mas também à psicologia das relações humanas. Um dos exemplos mais marcantes é a pintura “Duas mães. A mãe biológica e a adotiva”.

O artista baseou o enredo da pintura em uma história real ocorrida na família de um pintor conhecido seu. Uma camponesa havia abandonado o filho recém-nascido. O menino foi acolhido por uma família nobre abastada. Alguns anos depois, a mãe biológica localizou o filho e apareceu na casa da família adotiva exigindo satisfação.

O artista transmite com sensibilidade a psicologia do momento. A figura da camponesa com um lenço vermelho na cabeça é a cor dominante e o foco da composição da pintura. Ela transmite uma sensação de força e autojustiça. O menino, assustado com a visita de uma mulher estranha, pulou da cadeira alta e se agarrou à mãe adotiva. Ela o abraçou, também se curvando diante da força do hóspede.

Museu Regional de Arte de Samara

A senhora atrás dela também parece chocada; provavelmente, é uma babá idosa que criou um dos pais adotivos do menino. E apenas o chefe da família fuma calmamente, lançando um olhar como que avaliasse a hóspede, calculando por quanto dinheiro ela aceitaria renunciar ao filho pela segunda vez.

A adoção na Rússia do início do século 20 era muito diferente da atual. Não era qualquer pessoa que podia adotar. Por exemplo, indivíduos que tivessem filhos legítimos não poderiam adotar. Exceções eram feitas apenas em casos de adoção de parentes (como sobrinhos) ou quando os próprios filhos haviam falecido. A mulher casada só podia adotar com o consentimento do marido, e uma mulher solteira não podia adotar de forma alguma.

Museu Regional de Arte de Samara

A lei proibia de maneira categórica a adoção “pelas classes inferiores” de crianças pertencentes às “classes superiores”, como nobreza ou comerciantes. Ou seja, um camponês ou burguês não podia adotar um filho da nobreza. O contrário era possível, mas muito raro.

Assim, para a maioria dos órfãos, especialmente das classes inferiores, o caminho para a adoção estava fechado. Seu destino era decidido pelo sistema de orfanatos ou pela inserção em famílias na condição de “filho de criação”. Essas crianças não possuíam os direitos jurídicos dos adotados e muitas vezes cresciam como criados ou força de trabalho.

Portanto, a cena que o espectador vê na pintura de Makôvski — uma família abastada criando como próprio o filho de uma camponesa — era uma rara exceção, ressaltando a nobreza dos pais adotivos e o fato de que sua atitude contrariava as rígidas barreiras de classe da época.

A Janela para a Rússia está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br