Quem é chamado de ’tetraz (pássaro) surdo’? Entenda a expressão russa

Kira Lissítskaia (Foto: Tim E White, Neville Turton, Westend61/Getty Images)
Kira Lissítskaia (Foto: Tim E White, Neville Turton, Westend61/Getty Images)
Tem a ver com sedução e caça, mas virou uma coisa completamente diferente.

É tudo uma questão de amor, claro. E de caçadores observadores. Eles foram os primeiros a notar uma característica incomum do tetraz-lira (também conhecido como galo-lira). Quando começa a época de acasalamento, na primavera, os machos dão um verdadeiro espetáculo: emitem sons diferentes, acompanhados de uma dança espetacular.

O tetraz-lira abre a cauda e baixa ligeiramente as asas, depois, revirando os olhos, joga a cabeça para trás para cantar uma “ária” para a fêmea. Nesse momento, a ave, como dizem os caçadores, pode ser apanhada com as mãos – ela não vê nem ouve nada, de tão absorta que está em seu canto de amor.

Sabendo disso, durante a época de acasalamento, os caçadores conseguiam se aproximar do tetraz-lira (chamado em russo de ‘téterev’ ou ‘tetéria’) sem serem detectados.

Assim, surgiu a expressão russa ‘глухая тетеря’ (‘glukháia tetéria’; ou ‘tetéria surdo’, em português). Esta é uma forma metafórica de descrever alguém que não percebe nada ao seu redor, uma pessoa desatenta e pouco perspicaz.

No século 19, a palavra ‘tetéria’ entrou para a ficção. “Um tetraz-lira surdo vai te acompanhar até a saída”, diz um personagem no conto “O boi almiscarado”, de Nikolai Leskov. A palavra começou a ser usada para enfatizar não apenas a falta de inteligência ou a surdez, mas também outras qualidades negativas.

‘Cонная тетеря’ (‘sónnaia tetéria’; ‘tetraz-lira sonolento’) era uma expressão usada para alguém que gostava de ficar na cama por muito tempo ou que era normalmente preguiçoso. Em “O infortúnio da razão”, o escritor Aleksandr Griboedov apresenta um ‘ленивая тетеря’ (‘lenívaia tetéria’; ‘tetraz-lira preguiçoso’: o termo era usado para descrever o criado de Fámusov, que “não sabe de nada, não sente nada”. Enquanto isso, o compositor Modest Mússorgski escreveu uma canção sobre um ‘пьяная тетеря’ (‘piánaia tetéria’; ‘tetraz-lira bêbado’) – que é repreendido pela esposa.

Em português, seria como dizer que alguém está “no mundo da lua”.

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