Operação ‘Baby Face’: Quando a CIA espionou a URSS a partir da Noruega

U-2 da Base Aérea de Bodø na Noruega

A Base Aérea de Bodø, localizada no coração do Círculo Polar Ártico, fechou as portas como estação de caça em 2022, marcando o fim de uma era para a Força Aérea Norueguesa. No entanto, por trás da fachada imponente esconde-se uma das páginas mais fascinantes e secretas da Guerra Fria: as missões de espionagem sobre a URSS com a aeronave U-2.
Um nó estratégico na Guerra Fria

Durante os primeiros anos da Guerra Fria, a Bodø (formalmente conhecida como Estação Aérea Principal de Bodø) foi um elemento vital na estratégia da OTAN graças à sua proximidade com a União Soviética. A base, que operou durante décadas como uma das bases mais importantes da Força Aérea Real Norueguesa, tornou-se um importante ponto de parada para missões de reconhecimento aéreo. Situada a apenas 800 quilômetros da base naval russa em Murmansk, Bodø oferecia uma posição estratégica para vigilância e coleta de informações.
A era do U-2 e a Operação ‘Baby Face’

A relevância da Bodø atingiu um novo patamar com o uso do U-2, um avião espião de alta altitude equipado com câmeras óticas sofisticadas e equipamentos de inteligência eletrônica (ELINT), cuja tarefa era espionar as defesas e capacidades soviéticas. A CIA, que tinha interesse em saber detalhes do desenvolvimento dos primeiros mísseis intercontinentais e da melhoria das defesas aéreas soviéticas, encontrou na Bodø a plataforma perfeita para lançar tais missões.
Em 1958, a CIA implementou a Operação Baby Face, que seguia por dois caminhos: sobrevoo do Mar de Barents para obter imagens da base de Plesetsk (exigindo autorização presidencial); e operação em águas internacionais no Golfo da Finlândia. Embora apresentada como uma missão de amostragem atmosférica após os testes nucleares soviéticos em Nova Zembla, seu verdadeiro propósito era coletar dados estratégicos sobre a infraestrutura científico-militar da URSS.

Voo histórico e suas consequências
Um dos episódios mais famosos ocorreu em 6 de novembro de 1958, quando um U-2, pilotado por John Shinn e equipado com tanques de combustível de longo alcance, embarcou em uma missão que o levou perto de Leningrado. O avião foi detectado pelo radar soviético e, depois de uma tensa troca de mensagens, conseguiu completar a sua missão e pousar na Base Aérea de Incirlik, na Turquia. Este voo, que recebeu apoio de aeronaves de transporte e de reforço, colocou as defesas soviéticas em alerta e se tornou um marco importante na história da espionagem aérea.

Em 1º de maio de 1960, um míssil superfície-ar derrubou um U-2 pilotado por Gary Powers sobre o território soviético, desencadeando uma crise diplomática de grandes proporções. O avião destruído deveria ter pousado em Bodø.

O legado da Bodø e a transição para novas tecnologias
Após o fim das missões U-2, a base de Bodø continuou a cumprir funções militares, particularmente como base de caça. Ao longo dos anos e com a adição de aeronaves F-16, a Bodø se tornou um ponto focal para a defesa aérea norueguesa.

No entanto, com a chegada dos caças furtivos F-35, o papel da base de Bodø como estação de caça tornou-se coisa do passado. Assim, foi substituída por novas bases no norte, como Evenes, que, de acordo com publicações especializadas ocidentais como a TWZ, assumiu as funções de alerta precoce e vigilância marítima.
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