
Como a URSS ajudou a China na guerra contra o Japão

Em julho de 1937, começou a longa e sangrenta guerra entre a República da China e o Império do Japão. Em apenas alguns meses, as tropas mais bem treinadas e equipadas da “Terra do Sol Nascente” infligiram uma série de grandes derrotas ao Exército Nacional Revolucionário Chinês e ocuparam uma parte significativa do território chinês, incluindo as cidades mais importantes: Beiping (Pequim) e Tianjin.
Moscou observava os sucessos do Japão com atenção, porque eles poderiam se tornar uma ameaça potencial ao Extremo Oriente soviético. Portanto, quando o líder do partido governante chinês Kuomintang, Marechal Chiang Kai-shek, recorreu às principais potências mundiais com um pedido de ajuda, a URSS foi a primeira a responder.

O Kremlin, no entanto, não estava pronto para entrar em uma aliança militar com a China ou se envolver em um conflito armado aberto com Tóquio. Para dar apoio ao vizinho do sul, a União Soviética concluiu um pacto de não agressão com a China em 21 de agosto de 1937 e, pouco tempo depois, começou a realizar a “Operação Z”, ou seja, o fornecimento de assistência militar abrangente.

Moscou concedeu ao Kuomintang empréstimos preferenciais, que foram usados para pagar equipamentos militares e armas. Ao longo de anos, a URSS forneceu aos chineses quase 1.300 caças, bombardeiros e aeronaves de treinamento, 1.600 peças de artilharia, 82 tanques T-26, 14.000 metralhadoras, 110.000 rifles e munições.
As cargas foram entregues através da Ásia Central Soviética até a região chinês do Xinjiang e, depois, ao interior do país asiático. Para isso, a URSS reparou estradas antigas e construiu novas nas regiões fronteiriças. Em 1939, uma fábrica de aeronaves soviética foi inaugurada perto da cidade de Urumqui, que em apenas alguns anos produziu mais de 100 caças Polikarpov I-16 para o Exército Nacional Revolucionário.

Para aumentar a capacidade de combate das tropas chinesas, Moscou também emprestou seus especialistas e conselheiros militares, que ocuparam posições em unidades de infantaria, artilharia e tanques do exército chinês e também ajudaram a estabelecer a logística, melhorar as comunicações e o trabalho de médicos militares.
Os conselheiros militares das tropas do Kuomintang incluíam o futuro marechal das Tropas Blindadas Pável Ribalko, o futuro marechal de artilharia Konstantin Kazakov, e Andrei Vlasov, que passou para o lado dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e se tornou o líder do movimento colaboracionista russo.
O comandante do 62º Exército soviético, que defendeu Stalingrado nas batalhas mais difíceis em 1942, Vassíli Tchuikov, ocupou o cargo de principal conselheiro militar do comandante-chefe do Exército chinês, marechal Chiang Kai-shek.

Dos 4.000 especialistas militares enviados à China, cerca de 3.500 eram pilotos, engenheiros aeronáuticos e técnicos. Enquanto alguns deles treinavam seus colegas chineses para pilotar aeronaves soviéticas, outros se voluntariaram para participar das batalhas. Quatorze deles se tornaram Heróis da União Soviética, 211 morreram.
Devido à esmagadora superioridade numérica da Força Aérea do Exército Imperial Japonês, os pilotos de caça soviéticos tinham que realizar de 4 a 5 missões por dia para defender as cidades chinesas.

Os caças soviéticos I-15 e I-16 (apelidados de “andorinhas” pelos chineses) demonstraram sua superioridade durante ataques aéreos em Nanquim, enquanto os bombardeiros SB realizaram ataques bem-sucedidos contra as bases aéreas inimigas perto de Xangai e em navios japoneses no rio Yangtzé.
“Os japoneses se tornaram mais cautelosos; as lições, como dizem, foram úteis. Eles não se precipitaram mais, confiando na superioridade numérica, porém agiram de forma mais sofisticada e astuta. Abandonaram as táticas padrão e começaram a tratar o inimigo com muito mais ‘respeito’. Aprenderam a reconhecer nossas ‘andorinhas’ no ar e preferiram não entrar em combate um a um”, escreveu o tenente-coronel, Dmítri Kudímov.

Em 23 de fevereiro de 1938, um grupo de bombardeiros SB sob o comando do capitão Fiódor Polínin realizou um ataque aéreo certeiro contra a base aérea de Matsuyama, na Ilha Formosa (Taiwan). Os japoneses estavam confiantes de que tal base estava fora do alcance de aeronaves inimigas. Durante sete horas, 28 bombardeiros voaram mil quilômetros sem cobertura de caças. Para reduzir o consumo de combustível, o grupo aéreo voou a uma altitude de cerca de 5.000 km.

Por estarem sem máscaras de oxigênio, os pilotos ficaram no limite da força durante todo o voo. “O coração bate mais rápido, a cabeça gira, você sente sono... Você só pode confiar na sua própria resistência física”, escreveu Polínin.
Durante o ataque foram destruídas 40 aeronaves inimigas, hangares e o suprimento de combustível para três anos. O governador de Formosa foi demitido e o comandante da Base Aérea de Matsuyama cometeu suicídio.

A partir da primavera de 1939, as tropas soviéticas do Distrito Militar do Extremo Oriente receberam ordens de fornecer secretamente armas, munições, alimentos e medicamentos aos guerrilheiros chineses na Manchúria. Muitas vezes, unidades guerrilheiras chinesas derrotadas pelos japoneses encontravam refúgio na URSS.
Os guerrilheiros chineses e coreanos que foram parar em território soviético acabaram incluídos na 88ª brigada de fuzileiros separada, sob o comando de Zhou Baozhong, formada para a possível guerra soviético-japonesa. Um dos batalhões era comandado pelo futuro líder norte-coreano Kim Il-Sung.

Foi assim que a URSS forneceu grande assistência à China no período inicial e mais difícil da guerra, aumentou a capacidade de combate do exército chinês e praticamente recriou a Força Aérea do país.

Em 1941, a URSS começou a diminuir gradualmente a ajuda ao Kuomintang, devido à piora nas relações entre o governo de Chiang Kai-shek e os comunistas de Mao Zedong, bem como ao pacto de neutralidade soviético-japonês concluído em abril. Quando as tropas nazistas alemãs invadiram a URSS em 22 de junho, o Kremlin se viu obrigado a concentrar os esforços na proteção de seu próprio território.
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