Como uma professora provinciana salvou 3.225 crianças durante a Segunda Guerra Mundial
Em 14 de agosto de 1942, um trem incomum chegou à plataforma da estação ferroviária da cidade de Górki (atual Níjni Novgorod). A bordo dos cerca de 60 vagões de carga, os passageiros eram crianças famintas, exaustas — porém, o mais importante, vivas — nativas da região de Smolensk, fugindo das bombas e projéteis alemães. Para sobreviver, elas precisaram se separar das famílias e deixar sua terra natal. Os nazistas não poupavam civis: queimavam aldeias inteiras e perseguiam brutalmente parentes de comunistas e todos os suspeitos de colaborar com os guerrilheiros.
A única forma de salvar essas crianças da morte ou dos campos de concentração era enviá-las para a retaguarda. O comandante da unidade de guerrilheiros, Nikífor Koliada, conhecido como “Bátia”, encarregou a professora da escola primária da aldeia de Basino, Matriona Vólskaia, de liderar a perigosa operação.
Ele não sabia que ela estava grávida, mas a conhecia como uma combatente disciplinada e uma experiente agente de reconhecimento. Vólskaia já havia sido condecorada com a Ordem da Estrela Vermelha por uma operação bem-sucedida. Ela recebeu como apoio apenas duas colaboradoras — a também professora Varvara Poliakova e a enfermeira Ekaterina Gromova. As três seriam responsáveis por garantir a evacuação segura de milhares de crianças.
A travessia
Em 23 de julho de 1942, os guerrilheiros conseguiram reunir cerca de 1.500 crianças na praça da aldeia de Elisseievitchi. Apenas jovens com mais de 10 anos foram autorizados a fugir. Os mais velhos tinham 16 ou 17 anos. Os guerrilheiros percebiam que crianças menores simplesmente não resistiriam aos 200 km de caminhada por pântanos e trilhas sem estrada, em zona de combate, onde ataques nazistas podiam acontecer a qualquer momento, vindos de qualquer direção.
Os jovens foram divididos em grupos de 40 a 50, que eram acompanhados por mensageiros. À frente, Vólskaia caminhava com os mais velhos. Em seguida vinha Poliakova com os menores, e na retaguarda, Gromova com os mais novos. Avançavam durante o dia e se escondiam na floresta à noite. Matriona avançava sozinha 20 a 25 km para fazer reconhecimento da rota: verificava se havia minas ou tropas inimigas. Ao amanhecer, voltava para liderar os grupos.
O calor era intenso, mas a água disponível era imprópria para consumo: poços e até o rio Gobza estavam contaminados com resíduos de corpos em decomposição — os nazistas jogavam cadáveres nas águas. Em certa ocasião, ao avistarem o rio Dviná Ocidental, limpo, as crianças correram para ele, saindo da proteção da floresta. Três caças alemães que sobrevoavam a área abriram fogo. As crianças se dispersaram, apenas uma menina ficou ferida.
3.225 vidas
Ao longo do caminho, crianças de aldeias e povoados vizinhos se juntaram à caravana, Vólskaia nunca recusava ninguém. Na vila de Torópets, outras mil crianças se uniram ao grupo. Ali aguardaram o trem por vários dias — os jovens ficaram abrigados em uma antiga escola semidestruída.
Na noite de 5 de agosto, as crianças, enfim, embarcaram no trem especial de 60 vagões, cujas partes superiores traziam escrita em letras garrafais a palavra “CRIANÇAS”.
Na estação de Górki, o trem foi recebido por autoridades e médicos. Muitas crianças precisaram ser carregadas em macas, mas todas chegaram vivas. Testemunhas afirmam que no total 3.225 crianças conseguiram escapar da ocupação nazista.
As crianças foram inicialmente levadas a hospitais e clínicas, depois para escolas profissionalizantes e, mais tarde, começaram a trabalhar nas fábricas da região. Vólskaia teve dois filhos, voltou a trabalhar como professora em uma escola de ensino médio na aldeia de Smolki, na região de Górki, e pouco falava sobre a heroica evacuação de 1942.
Esta reportagem é uma versão resumida de um artigo originalmente publicado em russo na revista “Rússki Mir”