Como as estrelas foram parar nas torres do Kremlin de Moscou?

A decisão de substituir as águias bicéfalas nas torres do Kremlin de Moscou por estrelas de cinco pontas foi anunciada em 23 de agosto de 1935 – quando símbolos do poder imperial estavam sendo destruídos por todo o país. As estrelas, aprovadas por Stálin, foram desenhadas pelo artista teatral Fiódor Fiodorovski, e cada delas uma tinha seu próprio design.

Na estrela da Torre Spasskaya, os raios divergiam do centro para o topo. Já na Torre Troitskaya, assemelhavam-se a espigas de milho. A estrela da Torre Borovitskaya tinha o seu contorno inscrito. A Nikolskaya recebeu a mais modesta das estrelas – sem elementos adicionais. O tamanho variava de 3,5 a 4,5 metros entre as extremidades dos raios. Eram feitas de aço inoxidável de alta liga e cobre vermelho com revestimento dourado.
As imagens em bronze e aço da foice e do martelo foram colocadas bem no centro, em ambos os lados, e eram decoradas com pedras preciosas dos Urais: cristal de rocha, ametista, alexandrita, topázio e água-marinha. Cada pedra era fixada separadamente em uma moldura de prata dourada. Cada estrela tinha cerca de 1.300 pedras preciosas – iluminadas por holofotes, elas brilhavam, cintilavam e eram visíveis de longe.
Durante a instalação, as torres do Kremlin foram reparadas e reforçadas, e os símbolos podiam girar em diferentes direções, impulsionados por rajadas de vento — como se fossem cata-ventos —, o que permitia que fossem observados de pontos distintos. Em 27 de outubro de 1935, as estrelas tomaram seus lugares nas torres.

No entanto, o brilho inicial das estrelas durou pouco: as pedras acabaram desbotando por conta das condições climáticas, e o próprio tamanho dos símbolos poluía o conjunto arquitetônico do Kremlin. Assim sendo, dois anos depois, decidiu-se fazer novos símbolos – os agora familiares símbolos de “rubi” — e instalá-los em cinco torres, incluindo a Vodovzvodnaya.
Fedorovski desenhou um novo esboço e propôs uma cor rubi para os vitrais. Os tamanhos das estrelas também foram reduzidos. De acordo com o novo projeto, a base seria uma moldura tridimensional feita de aço inoxidável de alta qualidade, o contorno externo e os padrões seriam feitos de cobre dourado por método galvânico, e cada viga seria produzida na forma de uma pirâmide multifacetada.

A produção do vidro rubi exigia uma habilidade especial. Era preciso que tivesse densidades diferentes e transmitisse apenas raios vermelhos de um determinado comprimento de onda. O vidro também precisava ser resistente a mudanças bruscas de temperatura e à radiação solar.
A fórmula para o vidro rubi necessário foi desenvolvida pelo especialista em vidro Nikanor Kurotchkin, que recebeu o Prêmio Stálin por suas realizações na produção de vidro. Kurotchkin também teve a ideia do vidro duplo: a superfície interna de cada estrela é feita de vidro leitoso e a externa, de rubi. Isso permitia um brilho vermelho vistoso (depois da restauração de 1945, além do rubi e do vidro leitoso, uma nova camada intermediária de cristal foi adicionada).

Lâmpadas incandescentes — feitas de vidro de molibdênio resistente ao calor — foram especialmente desenvolvidas para as estrelas. Dentro de cada uma havia duas espirais conectadas em paralelo para que a lâmpada não se apagasse. Quando uma espiral queimava, um sinal era enviado ao painel de controle, e especialistas logo substituíam a lâmpada queimada. As estrelas também tinham um sistema de ventilação embutido que resfriava as lâmpadas e limpava da poeira.
As novas estrelas sobre as torres do Kremlin se iluminaram pela primeira vez no outono de 1937 e se apagaram apenas duas vezes desde então. A primeira foi durante a Segunda Guerra Mundial, quando foram cobertas com capas protetoras. A segunda aconteceu na década de 1990, durante as filmagens de “O Barbeiro da Sibéria”, de Nikita Mikhalkov.
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