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Quem eram os ‘raechniks’ e por que foram a primeira “TV” da Rússia tsarista?

Autor desconhecido. Século 19
Domínio público
De certo modo, foi a primeira televisão popular e agência de notícias. Por um ou dois copeques jogados em um chapéu, uma caixa com janelas exibia imagens e um ‘raechnik’, também conhecido como ‘homens das notícias’, contava as histórias.

O ‘raechnik’ era extremamente simples: uma pequena caixa de madeira com lupas, dentro da qual se desenrolava uma longa tira de gravuras populares. O jornal ‘Severnaia Ptchela’ descreveu a peça em 1842 como “um pequeno cosmorama móvel, carregado nos ombros de um camponês russo, que conta feitos maravilhosos ao público com sua própria linguagem – prosa rimada – completa com ditados e piadas. Vai fazer você chorar de rir!”

O nome ‘raechnik’ se deve a seus enredos nos primórdios — quando mostrava “paraíso e farinha por não mais do que um copeque cada”, o que significa que o repertório era baseado em histórias bíblicas. No entanto, com o tempo, cenas da história sagrada foram suplantadas por temas da atualidade, e o ‘raeshnik’ evoluiu para uma mistura do que hoje pode-se chamar de imprensa e comédia stand-up.

As apresentações eram, inicialmente, muito populares em Moscou, sobretudo durante as festividades da Maslenitsa (o ‘Carnaval russo’) e da Páscoa. Na década de 1830, migraram para São Petersburgo.

A principal atração não era, obviamente, a caixa de imagens, mas sim o seu dono – o mágico que a operava. Seus comentários rimados – os chamados "versos raechni” – eram o maior chamariz. As imagens, muitas vezes tenuemente iluminadas por uma única vela, serviam apenas como pretexto para a improvisação. Todo o poder residia nas palavras dirigidas à plateia. O repertório era uma enciclopédia da vida popular, um verdadeiro “jornal oral”, onde as notícias eram transformadas em sátira e fábula.

Reprodução da ilustração “Um Assunto Importante”, do artista Viatcheslav Sisoev
Ígor Boiko / Sputnik

Os principais temas do ‘raechnik’ eram:

Geografia: “Mas olhem para a grande cidade de Paris, se vocês entrarem, ficarão impressionados! Nossa nobreza eminente vai lá gastar seu dinheiro.”

Guerra e política: Durante a Guerra da Crimeia, um ‘raechnik’ comentaria sarcasticamente sobre os resultados das operações militares: “…e Deus poupou os nossos: eles estão lá sem cabeça, fumando cachimbos.”

Sensacionalismo e tecnologia: a bailarina Fanny Elssler em turnê; um voo de balão de ar quente; o primeiro trem para Tsárskoie Selô – tudo isso se tornava notícia.

Incidentes: Os incêndios em Kostroma foram noticiados da seguinte forma: “A cidade de Kostroma está pegando fogo, um homem está parado perto da cerca urinando, um policial o agarra pela gola, diz que ele está provocando o incêndio, mas o homem grita que está apagando.”

Na virada do século 20, a figura do ‘raechnik’ desapareceu das praças públicas, substituído pelos cinemas. 

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