Como o Natal e o Ano Novo eram celebrados na Rússia no século 19?

Museu Russo “Preparando o Natal”, de Serguêi Dossékin.
Museu Russo
No século 19, as celebrações de Natal e Ano Novo na Rússia seguiam um calendário próprio e uniam costumes da Igreja Ortodoxa a tradições seculares, transformando o inverno no período festivo mais longo do ano.

Visitas em 1º de janeiro

Hoje, os russos celebram o Ano Novo e o Natal por cerca de 12 dias, desde 31 de dezembro a 11 de janeiro — feriados oficiais em todo o país. A tradição de longos feriados de Ano Novo na Rússia surgiu há muito tempo.

No século 19, na Rússia imperial, as celebrações começavam com a chegada do período conhecido como “sviátki”, uma sequência inteira de festas. As comemorações tinham início em 24 de dezembro (6 de janeiro pelo novo estilo), na véspera de Natal; em 25 de dezembro (7 de janeiro), celebrava-se o Natal; em 1º de janeiro (14 de janeiro), o Ano Novo; e em 6 de janeiro (19 de janeiro), o Batismo do Senhor. Oficialmente, havia apenas quatro dias de folga, mas, na prática, as pessoas festejavam como hoje, por quase duas semanas.

Museu Estatal Púcchkin de Belas Artes “Kátia de azul junto à árvore de Natal”, de Zinaída Serebriakova.
Museu Estatal Púcchkin de Belas Artes

As tradições religiosas e seculares estavam intimamente ligadas. Na noite de Natal, as pessoas saíam para cantar “koliádkas”, ou seja, canções natalinas, e pela manhã iam à igreja para o solene serviço religioso. As igrejas das grandes cidades costumavam ficar lotadas, até vendiam ingressos para o serviço natalino, que não eram fáceis de conseguir. Nesse mesmo dia, visitavam amigos e parentes e faziam visitas formais. Ao longo de um único dia, conseguiam passar por várias casas e, em todas elas, brindavam em homenagem à festa e se deliciavam com pratos natalinos.

Durante todo o período festivo, as famílias ricas e nobres organizavam jantares solenes, bailes suntuosos e mascaradas.

As pessoas simples se divertiam descendo colinas de gelo e andando de trenó e assistindo fogos de artifício.

No final do século 19, surgiram os cartões de Natal. Eles eram enviados não apenas a parentes que moravam em outras cidades, mas também a vizinhos da mesma rua.

Museu Nacional de Arte da Bielorrússia “Véspera de Natal (Interior com uma Árvore de Natal)”, de Stanislav Jukóvski.
Museu Nacional de Arte da Bielorrússia

Até meados do século 19, as árvores de Natal não eram decoradas nem sequer montadas nas casas russas. Desde o início do século 18, ramos de abeto eram levados a algumas residências, geralmente católicas. A tradição de decorar árvores e organizar festas infantis começou a ganhar popularidade apenas a partir de meados do século 19, durante o reinado do imperador Nicolau 1º. A esposa do imperador, a grã-duquesa Alexandra Fiódorovna, organizou a primeira árvore de Natal festiva para crianças de famílias nobres. A tradição se espalhou rapidamente: primeiro, as matinês festivas passaram a ser realizadas nas famílias da nobreza e, depois, também nas famílias de comerciantes.

Segundo o costume alemão, a árvore de Natal era decorada na véspera. Ela era enfeitada com brinquedos, fitas, lanternas e doces: pastilhas de frutas, maçãs, biscoitos. As crianças encontravam seus presentes não apenas debaixo da árvore, mas também pendurados nela; após a festa, os brinquedos e os doces eram distribuídos aos convidados.

Museu de Arte Regional de Krasnodar em homenagem a F. A. Kovalenko “Mercado de Árvores de Natal”, de Boris Kustodiev.
Museu de Arte Regional de Krasnodar em homenagem a F. A. Kovalenko

Mais tarde, começaram a ser produzidos enfeites especiais para a árvore de Natal, feitos de papel machê e vidro. No momento solene, velas eram acesas na árvore, e ao lado colocava-se um balde com água, para que um possível incêndio pudesse ser apagado rapidamente.

Apesar da popularidade das árvores de Natal entre a nobreza e os comerciantes abastados, os camponeses não as montavam até meados da década de 1930.

A mesa de Natal

A mesa farta e festiva é um dos principais símbolos da celebração. No Natal, acaba o grande jejum da Igreja e, junto com ele, as restrições alimentares.

A ceia de Natal começava a ser preparada com antecedência: na véspera, recheavam leitões e aves e preparavam o “sótchivo", ou seja, um prato especial de Natal, feito com trigo ou outros grãos e sementes de papoula. Os russos costumavam também preparar biscoitos de mel especiais em forma de cabras ou vacas, símbolos dos animais que estavam no estábulo no momento do nascimento de Jesus.

No século 19, as tangerinas se tornaram o principal fruto do Ano Novo. As primeiras tangerinas eram trazidas da Europa e custavam muito: por uma dúzia, era preciso pagar cerca de três rublos (a título de comparação, com 15 rublos era possível comprar uma vaca). Em meados do século 19, começaram a ser cultivadas variedades de cítricos resistentes ao frio nos jardins botânicos da Geórgia e da Abecásia e, pouco a pouco, as tangerinas se tornaram mais acessíveis aos russos e se transformaram em um dos principais símbolos do Ano Novo na Rússia.

A versão integral deste artigo (em russo) pode ser encontrada no site Culture.ru.