Como o cientista russo Ivan Mitchúrin mudou as leis da natureza

Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin “Mitchúrin na estufa”, por Víktor Evstafiev, 1949
Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin
Nascido em 1855, Ivan Mitchúrin desenvolveu 300 novas variedades de frutas e bagas: maçãs, peras, cerejas, ameixas, damascos, uvas, actinídios e outras e conseguiu mudar as fronteiras da fruticultura para o norte, para as regiões central e norte da Rússia.

“Não podemos esperar favores da natureza. Tomá-los dela — essa é a nossa tarefa.”

Muitos russos conhecem essa frase, mas poucos sabem a quem ela pertence. Seu autor é o famoso cientista e melhorista de plantas russo Ivan Mitchúrin (1855–1935), que modificou a natureza das plantas com as próprias mãos.

Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin
Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin

Desde os cinco anos de idade, Mitchúrin foi criado apenas pelo pai, que, como seus antepassados, era apaixonado por jardinagem e transmitiu ao filho o amor pela natureza e pela botânica.

O menino demonstrava interesse pelas ciências naturais: aos oito anos, já dominava várias técnicas de enxerto de árvores, ajudava o pai no apiário e no jardim, e dedicava todo o seu tempo livre à leitura de obras de biologia.

Mitchúrin sonhava estudar em um liceu da capital após concluir a escola local, mas os planos ruíram: a família perdeu todo o dinheiro e teve que vender a propriedade para pagar as dívidas. Ele entrou no ginásio da cidade de Riazan, de onde acabou expulso por “desrespeito à direção”. Trabalhou como escriturário em uma estação ferroviária, logo se tornou assistente do chefe da estação e passou a estudar telégrafo e eletricidade.

Em 1875, apesar da renda modesta, alugou uma pequena propriedade rural e criou seu primeiro viveiro experimental. Enquanto trabalhava na ferrovia, gastava tudo o que ganhava na compra de sementes, mudas e livros especializados. Sua esposa sempre o ajudava.

Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin “Macieiras antes da colheita em Mitchurinsk”, por Víktor Evstafiev, 1950
Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin

Sua persistência gerou resultados incríveis:  ele desenvolveu variedades de maçãs, peras e ameixas resistentes ao frio, e foi o primeiro a cultivar na região central da Rússia espécies até então consideradas meridionais — como cereja doce, amêndoa e uva. As maçãs e peras da faixa central ficaram maiores e mais saborosas, e a elas se juntaram frutas típicas do sul, que antes pareciam impossíveis de crescer naquela latitude. Ele também desenvolveu as bases do melhoramento genético de plantas o e seus métodos ainda são utilizados por melhoristas em todo o mundo.

Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin “Mitchúrin no jardim entre membros de um kolkhoz (fazenda coletiva)”, por Víktor Evstafiev, 1949
Víktor Evstafiev/Museu Estatal Darwin

A fama de Mitchúrin ultrapassou as fronteiras da Rússia. Ele recebeu ofertas de trabalho no exterior, incluindo um convite oficial dos Estados Unidos em 1913, que recusou.

Após a Revolução de 1917, suas pesquisas receberam apoio do governo soviético e foram elogiadas por Vladímir Lênin. Mitchúrin se tornou o melhorador mais conhecido do país, recebeu as mais altas condecorações estatais, e em seu viveiro foram fundados institutos de pesquisa. Mesmo sem formação acadêmica formal, ele foi reconhecido como doutor em Ciências Biológicas e se tornou membro honorário da Academia de Ciências da URSS.

Em homenagem ao 170º aniversário de Ivan Mitchúrin, o Museu Darwin, em Moscou, apresenta a exposição “Jardineiros e Jardinagem”, onde o público pode ver obras do artista Víktor Ievstáfiev, livros raros de horticultura do século 19 e documentos de arquivo sobre a vida e as conquistas do lendário cientista. A mostra fica em cartaz até 14 de dezembro.

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