Por que a pintura ‘Proposta de Casamento do Major’ fez o público rir?

Oficial e artista

O artista levou um ano para terminar esta que foi a sua terceira obra. Fedotov, um oficial aposentado do Regimento de Guardas de Vida Finlandeses, queria pintar cenas de batalha. Porém, no fim das contas, deu-se melhor retratando cenas cotidianas. Primeiro, foi a vez de “O Novo Cavaleiro” e depois veio “Noiva Difícil”.

Depois de ver as duas primeiras obras, o já famoso artista Karl Briullov ficou tão encantado que conseguiu uma bolsa de estudos para o autor. Com os 700 rublos recebidos, o artista começou a pintar ‘Proposta de Casamento do Major’.
Fedotov realizava seu novo trabalho com rigor militar e comprou objetos para retratar com fidelidade, incluindo um vestido de noiva — que foi colocado em um manequim, dando-lhe diferentes poses para alcançar a credibilidade almejada.

Em 1849, Fedotov apresentou as suas três primeiras obras em uma exposição na Academia de Artes. No entanto, a atenção do público ficou concentrada na nova tela: as pessoas agitavam as mãos, riam abertamente, e o próprio artista lia para o público poemas de sua própria composição, explicando a essência da ‘Proposta de Casamento do Major’.
Casamento com benefícios

Todos os personagens da pintura estão em movimento: o oficial espia pela porta; a cozinheira está colocando uma torta “kulebiaka” sobre a mesa; e a mãe segura a noiva pelo vestido, que está pronta para fugir. A casamenteira abre as mãos, o pai da família tenta abotoar o casaco e a dama de companhia à esquerda pergunta à ajudante o que está ocorrendo.

Mas qual é o problema? A confusão de sempre antes do casamento. Só que não é tão simples assim. Primeiro, o casamento era claramente desigual: nobres empobrecidos da época se casavam voluntariamente com noivas de famílias de comerciantes ricos. Os benefícios eram claros para ambos os lados — enquanto um lado ganhava o sustento, o outro adquiria os privilégios da classe alta. Embora os preparativos para a chegada do noivo tivessem sido claramente feitos, a sua aparição causou comoção. Porém, ele, confiante no desfecho, nem sequer trouxe um buquê consigo.

O comerciante está visivelmente desconfortável com seu casaco – ele não está acostumado com esse tipo de roupa. As damas estão usando vestidos de baile, o que viola a etiqueta. A mãe usa um lenço na cabeça, e não um bonnet, como era costume para as damas casadas da época. O vestido da noiva, por sua vez, é decotado demais, com muitas joias. Além do mais, em vez de um leque, ela possui um lenço de renda (caído no chão).
A disposição da mesa de jantar – pequena demais para tantas pessoas – também não está isenta de críticas. A toalha de mesa não combina com a ocasião – em vez de branca, é rosa com padrões, e uma garrafa de champanhe com taças desponta sobre a cadeira.

Um enorme lustre de cristal, ricamente pintado com ninfas, pende do teto, e, em vez de pinturas da moda, as paredes são decoradas com um retrato do Metropolita.

Ao observar a imagem, o público notou as diversas inconsistências – para os contemporâneos, elas imediatamente chamavam a atenção. Trajes pretensiosos, violação da etiqueta – tudo em ‘Proposta de Casamento do Major’ indicava que seus personagens queriam fechar um acordo favorável rapidamente e não tinham vergonha disso.
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