Como os franceses perfumaram a Rússia tsarista inteira

Kira Lissítskaia (Foto: Biblioteca Estatal Russa; Museu de Arte de Iaroslavl; Revista NIVA No. 50, 1897)
Kira Lissítskaia (Foto: Biblioteca Estatal Russa; Museu de Arte de Iaroslavl; Revista NIVA No. 50, 1897)
A fábrica de perfumes de Alphonse Rallet foi fundada em meados do século 19. O fundador e seus sucessores não apenas forneciam fragrâncias para a corte imperial, mas também criaram a maior unidade de produção no país, que ainda hoje está em operação. Eles também trouxeram ao mundo o lendário Chanel No. 5.
Domínio público Alphonse Rallet
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Em 1842, um francês de 23 anos chamado Alphonse Rallet chegou Moscou, onde, um ano depois, fundou sua própria fábrica de perfumes e começou a produzir todos os tipos de produtos de perfumaria – perfume, sabão, colônia, pó, batom e cremes. Já em 1855, recebeu o título de ‘Fornecedor da Corte de Sua Majestade Imperial’, que atestava a mais alta qualidade dos produtos e dava o direito de colocar o brasão russo nas embalagems. A empresa receberia esse título mais três vezes.

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Na década de 1860, Rallet e seu novo sócio Emile Baudrand já tinham duas fábricas – em Moscou e Kharkov, ambas empregando até 200 pessoas. No final da década, Rallet retornou à França, porém, a marca ‘Alphonse Rallet and Co.’ (A. Rallet et S-te), que havia conquistado a confiança dos clientes, permaneceu: a empresa não mudou seu nome até 1918.

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A fábrica ficou famosa pela diversidade de produtos. Entre os mais importantes estavam: mais de 2,4 milhões de barras de sabão por ano, 1,5 milhão de potes de pomada para cabelo, 238.000 frascos de perfume, 1,6 milhão de frascos de colônia e 23.000 caixas de pó de arroz. Também produzia óleos perfumados, fixadores, pó dental, creme facial e vários itens de purificação de ar para salas de estar, como “colônia para fumar em quartos”, papel para fumo e velas perfumadas. Na década de 1880, os produtos da empresa representavam 37% de toda a produção cosmética na Rússia.

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Uma nova era

Em 1898, começou uma nova fase: a fábrica foi comprada pela Chiris, uma empresa francesa de perfumes conhecida desde o século 18. A empresa familiar da cidade de Grasse era uma produtora líder de matérias-primas vegetais para a indústria de perfumes em toda a Europa.

Biblioteca Estatal da Rússia
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Os novos proprietários construíram uma grande fábrica em 1899 e a equiparam com os mais modernos recursos.

O auge do negócio de perfumaria da empresa se deu no início do século 20, quando um dos diretores, o famoso Adolphe Lemercier, se tornou o perfumista-chefe. A partir de 1902, sob sua orientação, o talento de Ernest Beaux, filho do diretor-gerente, amadureceu. Hoje, Beaux é um dos mais famosos perfumistas – o criador do lendário perfume Chanel No. 5.

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No entanto, o primeiro sucesso de Beaux se deu em Moscou, quando ele criou a fragrância floral ‘Tsárski Véresk’ (Urze do Tsar, em tradução livre). Em 1912, outro de seus produtos se tornou destaque, lançado para marcar o aniversário de 100 anos da Guerra Patriótica de 1812 – o ‘Le Bouquet de Napoleon’.

Os perfumes foram feitos usando tecnologia francesa e as essências vieram de Grasse – a famosa “província dos perfumistas”. Além disso, componentes aromáticos de várias outras partes do mundo também foram obtidos por meio de fornecedores franceses, como a essência de gerânio da Ilha Reunião no Oceano Índico e da Argélia, óleo de rosas da Bulgária e ilangue-ilangue das Filipinas.

Da publicidade a um novo nome

Revista NIVA No. 50, 1897
Revista NIVA No. 50, 1897

Os proprietários buscavam atrair clientes tanto pela qualidade dos produtos quanto pela embalagem elegante. Eles utilizavam caixas de papelão com desenhos ricamente coloridos, caixinhas de lata para pó e sabão e caixas para kits de viagem que tinham vários compartimentos com gavetas. Já na década de 1860, a produção de garrafas de vidro de diversos formatos e rolhas esculturais foi iniciada em Moscou. Por exemplo, a série de garrafas ‘Le Bouquet de Napoleon’ retratava uma águia francesa e, como bônus, os compradores recebiam um álbum de jubileu colorido intitulado ‘Em memória do Centenário da Guerra Patriótica’, com textos e desenhos baseados no romance ‘Guerra e Paz’ de Lev Tolstói.

Revista NIVA No. 50, 1897
Revista NIVA No. 50, 1897

A empresa gastou quantias enormes em publicidade, lançando cartões postais, cadernos, calendários e lápis com o logotipo. Para o Ano Novo de 1893, a ‘Rallet’ foi uma das primeiras companhias russas a produzir um calendário especial de publicidade. Tal descrição foi incluída mais tarde no manual sobre como criar publicidade: “O mais elegante dos anúncios de Moscou é um calendário gratuito com polítipos elegantes e páginas em branco para anotações diárias.”

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Os produtos da ‘Rallet’ foram um enorme sucesso na Exposição Universal de 1900 em Paris – tanto que a empresa recebeu o Grand Prix. Naquela época, seus produtos já eram conhecidos por todos na Rússia. Não é coincidência que o ensaio sobre a história da empresa dizia: “Parece não haver canto na Rússia onde suas obras não tenham penetrado”.

Depois de 1917, a fábrica foi nacionalizada e Ernest Beaux partiu para a França. Em 1922, foi renomeada para ‘Svoboda’, que segue em operação ainda hoje de acordo com seu perfil original.

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Este material é uma versão resumida do original publicado na revista ‘Russky Mir’.

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