
Onde exatamente fica o “reino muito distante” nos contos de fadas russos?

Se você lê contos de fadas populares russos, não pode deixar de notar como é difícil chegar ao chamado “reino muito distante”. Em vários contos de fadas, este lugar é separado do mundo dos vivos por uma floresta densa, um mar profundo e/ou um rio de fogo. E, sem ajudantes mágicos, não se consegue encontrar os caminhos secretos que levam até lá. A entrada para este mundo é geralmente guardada por Babá Iagá (em uma cabana sobre palafitas com forma de perna de galinha), que ora ajuda o herói a chegar ao seu objetivo, ora interfere e tenta comê-lo.
Mas, se ele conseguisse entrar no outro mundo, verdadeiros milagres o aguardavam lá: um jardim mágico com um pássaro de fogo e maçãs rejuvenescedoras; cavalos de crina dourada; lobos e corvos falando com voz humana; água viva e morta; e uma linda princesa com ‘Koschei, o Imortal’ protegendo-a.

Mas os riscos neste mundo são grandes: o herói pode literalmente morrer a cada passo. E, na maioria das vezes, é isso que acontece. Normalmente, como resultado da traição de alguém próximo, Ivan Tsarevitch (se a história for sobre ele) morre, seu corpo é cortado em pedaços e jogado em um lugar deserto. Então, um dos animais, a quem o herói havia ajudado anteriormente, encontra os restos mortais, despeja água ‘morta’ sobre eles, para que os pedaços voltem a se juntar, e depois um pouco de água ‘viva’ para trazê-lo de volta à vida. O jovem, de volta do mundo dos mortos, vai então punir os vilões e reivindicar deles o que lhe pertence por direito.

Como alternativa à morte nas mãos de um inimigo, pode haver caldeirões com água fria e fervente, nos quais se deve banhar. A ideia é a mesma – o herói deve morrer, literal ou simbolicamente, para ser ressuscitado com uma nova capacidade: mais forte, mais robusto, mais bonito do que antes. Assim, nenhuma dificuldade o assustará – ele irá superar todos os obstáculos e retornará para casa vitorioso, com um tesouro e uma bela esposa.
Por isso, muitos folcloristas, incluindo o famoso Vladimir Propp, compararam a jornada do herói ao “reino muito distante” a um antigo rito de iniciação: um jovem parte em uma jornada e retorna como um homem adulto.
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