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5 razões para ler “Coração de Cachorro”, de Mikhail Bulgákov

Janela para a Rússia (Foto: Moisej Nappelbaum; AST Russian Classics, 2024; Trifonov_Evgeniy) / Getty Images
Em 1925, Mikhail Bulgákov, um dos mais famosos dramaturgos russos do século 20, conhecido mundialmente como autor de “O Mestre e Margarida”, levou apenas três meses para escrever a novela satírica “Coração de Cachorro” (também traduzida como “Um Coração de Cachorro” em português). Esta obra se tornou sua segunda mais importante e famosa, e algumas citações são usadas ainda hoje no dia a dia na Rússia. “Coração de Cachorro” também impressionou os censores – tanto é que a publicação foi proibida por mais de 60 anos. Por que esse texto continua indispensável quase um século depois?

1. Uma das obras mais engraçadas e espirituosas da literatura russa

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Em sua novela “Coração de Cachorro”, Mikhail Bulgákov satiriza de maneira magistral a revolução comunista na União Soviética e o conceito do homem soviético, comprometido com os ideais da Pátria mãe, assim como critica com acidez a ciência e a prática da eugenia. O autor ridiculariza a nova ordem soviética, zomba das pessoas com baixa escolaridade que inesperadamente ganharam poder após a revolução e usa a sátira para mostrar os absurdos do novo modo de vida “soviético”.

O livro descreve como o famoso professor e cirurgião russo Preobrajénski decide levar um cachorro moribundo para seu imponente apartamento. Assim que o cão se acostuma à nova vida, ele se vê diante de uma estranha experiência: o professor e seu assistente implantam os testículos e a glândula pituitária de um criminoso recém-falecido no corpo do cachorro. O resultado é inimaginável até mesmo para o mais genial dos cientistas — o cão se transforma em humano.

2. Registro de uma época histórica

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Assim como uma crônica de jornal, a novela reflete com precisão os acontecimentos na Rússia de 1925. Primeiro, a mudança do regime político: mesmo em tom caricatural, os bolcheviques são retratados de forma bastante realista — jaquetas de couro, canções revolucionárias, debates inflamados e obsessão com a vitória da revolução mundial.

Depois, a ciência médica: o personagem principal do livro, professor Preobrajénski, não opera o cachorro para transformá-lo em humano, mas para experimentar técnicas de rejuvenescimento — tema central para médicos do fim do século 19 e início do 20. Além disso, a novela descreve com precisão a Nova Política Econômica, o aparecimento dos apartamentos comunais e os hábitos do jovem Estado soviético.

3. Coleção de citações que todo intelectual russo conhece

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Cada idioma tem seu repertório de frases que dispensam referência. “Coração de Cachorro” enriqueceu esse acervo russo com expressões conhecidas e usadas até hoje por muitos falantes da língua. Destaques para: “Não leia jornais soviéticos antes do almoço”; “A ruína está nas cabeças, não nos banheiros”; “Só os proprietários de terras que evitaram os massacres dos bolcheviques petiscam com entradas frias e sopas. Quem se respeita, mesmo que um pouco, prefere aperitivos quentes”; “Jamais cometa crimes, seja contra quem for. Envelheça com as mãos limpas”. Na novela há dezenas de frases famosas que atravessaram gerações.

4. Convite à reflexão sobre o que torna alguém humano

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Após a operação do professor Preobrajénski, o cachorro Chárik se transforma em humano e escolhe o nome Poligráf Poligráfo­vitch Chárikov. Mas a aparência humana não lhe concede dignidade: Chárikov é mesquinho, interesseiro, impulsivo, rancoroso, egoísta. Ele é alcoólatra e tem tendências criminosas. Já o cachorro Chárik, em seus monólogos internos, se mostrava dócil, inteligente e perspicaz. No fim das contas, o animal era mais humano do que o homem em que os médicos o transformaram.

5. Uma obra atual até hoje

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Além da sátira social sobre os acontecimentos na Rússia do início do século 20, a novela aborda temas universais: a busca pela juventude eterna, os limites da intervenção na natureza, a essência da humanidade, o valor da educação, a estupidez e os abusos de poder. O tempo passa, mas as perguntas de Bulgákov continuam atuais e relevantes.

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