Quatro clássicos russos que escreveram em línguas estrangeiras

Kira Lissítskaia (Foto: Gertrude Fehr/ullstein bild; Forum Auctions; freepik.com) / Getty Images
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O talento literário de alguns gigantes da literatura russa ultrapassou as fronteiras da língua materna. Dominando perfeitamente idiomas europeus, eles não apenas dialogaram com a cultura mundial, mas também se tornaram parte dela.

Ivan Turguêniev

Nascido em uma família nobre rica, Turguêniev desde cedo dominava o francês, o alemão e o inglês. Sua mãe, Varvara Turguênieva, lembrada por sua personalidade forte, também garantiu aos filhos a melhor educação.

Após se formar na Universidade de São Petersburgo, o jovem escritor frequentou cursos na Universidade de Berlim e passou grande parte da vida na Europa, atuando como verdadeiro mediador entre a cultura russa e a ocidental.

Culture Club / Getty Images
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Turguêniev cultivou amizade com alguns dos maiores nomes da literatura europeia, entre eles Charles Dickens, Henry James, George Sand, Victor Hugo, Prosper Mérimée, Émile Zola, Anatole France, Guy de Maupassant e Gustave Flaubert. Seu domínio do francês e do alemão era tão absoluto que ele revisava traduções de autores russos, escreveu prefácios e notas para edições estrangeiras, além de publicar ensaios e críticas literárias. Em 18 de junho de 1879, recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade de Oxford.

Fiódor Tiútchev

O poeta mais lírico russo passou mais de duas décadas fora da Rússia, a serviço diplomático. Aos 18 anos, recém-formado pela Universidade de Moscou, ingressou na missão diplomática russa em Munique, onde conviveu com o filósofo Schelling e o poeta Heinrich Heine.

Fine Art Images / Heritage Images / Getty Images
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Tiútchev dominava o francês, idioma de sua carreira oficial e de suas publicações em jornais e revistas europeus. O alemão, por sua vez, foi a língua de sua vida em família: suas duas esposas eram alemãs, e ele passou longos anos na Baviera, integrado ao meio intelectual local. Já no italiano, aprendido durante sua estadia em Turim, alcançou nível elevado. O russo permaneceu, por mais de 20 anos, apenas como língua de sua paixão — a poesia.

Vladímir Nabókov

Nascido em uma família aristocrática culta, Nabókov cresceu cercado por idiomas. Desde a infância, falava russo, inglês e francês. Mais tarde, lembraria que aprendeu a ler em inglês antes do russo.

Gertrude Fehr / ullstein bild / Getty Images
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Formado pela Universidade de Cambridge, o escritor viveu grande parte da vida fora da Rússia e acabou adotando o inglês como principal língua literária. Seu primeiro romance escrito nesse idioma foi “A Verdadeira Vida de Sebastian Knight” (“The Real Life of Sebastian Knight”, em inglês). A partir daí, nunca mais produziu prosa em russo. Também traduziu para o inglês obras fundamentais da literatura russa, como “Eugênio Onêguin”, de Púchkin; “Um Herói de Nosso Tempo”, de Lérmontov, e “Conto da Campanha de Ígor”, um poema épico anônimo escrito em antigo eslavo oriental.

Joseph Brodsky

Em termos de educação, Joseph Brodsky é o completo oposto de Nabókov. Ele concluiu o ensino médio com dificuldade, trabalhou em diversos ofícios como operário. No entanto, era leitor ávido, autodidata e começou a estudar inglês por vontade própria.

Ulf Andersen / Getty Images
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Exilado da União Soviética, encontrou nos Estados Unidos o espaço para consolidar sua carreira. Ele se tornou professor na Universidade de Michigan, onde introduziu os alunos à prática da leitura lenta e da análise detalhada da poesia.

Aos poucos, seu inglês atingiu um nível tão avançado que, a partir dos anos 1970, Brodsky passou a escrever com frequência ensaios e poemas diretamente em língua inglesa, construindo, assim, uma obra bilíngue que lhe garantiria reconhecimento internacional e, em 1987, o Prêmio Nobel de Literatura.

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