
5 razões para ler “Coração de Cachorro”, de Mikhail Bulgákov

1. Uma das obras mais engraçadas e espirituosas da literatura russa

Em sua novela “Coração de Cachorro”, Mikhail Bulgákov satiriza de maneira magistral a revolução comunista na União Soviética e o conceito do homem soviético, comprometido com os ideais da Pátria mãe, assim como critica com acidez a ciência e a prática da eugenia. O autor ridiculariza a nova ordem soviética, zomba das pessoas com baixa escolaridade que inesperadamente ganharam poder após a revolução e usa a sátira para mostrar os absurdos do novo modo de vida “soviético”.
O livro descreve como o famoso professor e cirurgião russo Preobrajénski decide levar um cachorro moribundo para seu imponente apartamento. Assim que o cão se acostuma à nova vida, ele se vê diante de uma estranha experiência: o professor e seu assistente implantam os testículos e a glândula pituitária de um criminoso recém-falecido no corpo do cachorro. O resultado é inimaginável até mesmo para o mais genial dos cientistas — o cão se transforma em humano.
2. Registro de uma época histórica

Assim como uma crônica de jornal, a novela reflete com precisão os acontecimentos na Rússia de 1925. Primeiro, a mudança do regime político: mesmo em tom caricatural, os bolcheviques são retratados de forma bastante realista — jaquetas de couro, canções revolucionárias, debates inflamados e obsessão com a vitória da revolução mundial.
Depois, a ciência médica: o personagem principal do livro, professor Preobrajénski, não opera o cachorro para transformá-lo em humano, mas para experimentar técnicas de rejuvenescimento — tema central para médicos do fim do século 19 e início do 20. Além disso, a novela descreve com precisão a Nova Política Econômica, o aparecimento dos apartamentos comunais e os hábitos do jovem Estado soviético.
3. Coleção de citações que todo intelectual russo conhece

Cada idioma tem seu repertório de frases que dispensam referência. “Coração de Cachorro” enriqueceu esse acervo russo com expressões conhecidas e usadas até hoje por muitos falantes da língua. Destaques para: “Não leia jornais soviéticos antes do almoço”; “A ruína está nas cabeças, não nos banheiros”; “Só os proprietários de terras que evitaram os massacres dos bolcheviques petiscam com entradas frias e sopas. Quem se respeita, mesmo que um pouco, prefere aperitivos quentes”; “Jamais cometa crimes, seja contra quem for. Envelheça com as mãos limpas”. Na novela há dezenas de frases famosas que atravessaram gerações.
4. Convite à reflexão sobre o que torna alguém humano

Após a operação do professor Preobrajénski, o cachorro Chárik se transforma em humano e escolhe o nome Poligráf Poligráfovitch Chárikov. Mas a aparência humana não lhe concede dignidade: Chárikov é mesquinho, interesseiro, impulsivo, rancoroso, egoísta. Ele é alcoólatra e tem tendências criminosas. Já o cachorro Chárik, em seus monólogos internos, se mostrava dócil, inteligente e perspicaz. No fim das contas, o animal era mais humano do que o homem em que os médicos o transformaram.
5. Uma obra atual até hoje

Além da sátira social sobre os acontecimentos na Rússia do início do século 20, a novela aborda temas universais: a busca pela juventude eterna, os limites da intervenção na natureza, a essência da humanidade, o valor da educação, a estupidez e os abusos de poder. O tempo passa, mas as perguntas de Bulgákov continuam atuais e relevantes.
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