GW2RU
GW2RU

Os neologismos de escritores russos

Kira Lissítskaia (Foto: Science Museum/Global Look Press, Christian Handl, Erwin Streit/imageBROKER.com/Global Look Press)
Os autores russos não apenas introduziram palavras de outras línguas no discurso literário, mas também criaram as suas próprias, que são usadas até hoje.

‘Golochtánni’

Vladímir Maiakóvski
Nikolai Petrov / Sputnik

Considerado um dos principais poetas da revolução, Vladímir Maiakóvski criava facilmente novas palavras com base em outras antigas e já bem conhecidas, e até inventou palavras próprias – para o “novo mundo”.

Por exemplo, ele criou “многопудье” (“mnogopúdie”), que significa “muitos puds” (pud é uma antiga unidade russa de massa, que equivale a cerca de 16,38 kg); “бесконечночасый” (“beskonetchnotchássi”), que quer dizer “sem limite de tempo”. E Maiakóvski chamava o balé de “дрыгоножества” (“drigonójestva”). Algumas palavras nem precisam de explicação, como, por exemplo: “стодомный” (ou “stodómni”) se refere a uma infinidade de edifícios residenciais. Ou “голоштанный” (“goloshtánni”), que literalmente significa “calças nuas” e faz alusão à pobreza do povo. Maiakóvski criou, por sinal, a metáfora mais vívida associada ao passaporte soviético – “молоткастый и серпастый” (“molotkãsti i serpásti”), ou “com foice e martelo”. O brasão da URSS com foice e martelo estava, de fato, estampado na capa do principal documento civil.

Além disso, o poeta deu origem a uma unidade fraseológica que ainda é usada na fala cotidiana: “ежу понятно” (“ejú poniátno”) ou “está claro para um ouriço”. É assim que se fala sobre algo óbvio e que não requer nenhuma explicação adicional: “Está claro até para um ouriço – este Pétia era um burguês!”

‘Stuchevátsia’, ‘limónnitchat’

Fiódor Dostoiévski
Domínio público

O autor de “Crime e Castigo”, Fiódor Dostoiévski, deu à língua russa dezenas de novas palavras. No conto “O Duplo”, a palavra “стушеваться” (“stuchevátsia”; “desaparecer”) aparece pela primeira vez. O escritor a utilizou com significado de “passar despercebido”, mas, com o tempo, essa palavra passou a ser usada em relação a uma pessoa que, por algum motivo, ficava constrangida ou tímida.

Dostoiévski também cunhou a palavra “лимонничать” (“limónnitchat”), que quer dizer “ser excessivamente educado, quase artificial”. O escritor se inspirou em uma palavra similar já existente, “mindálnitchat”, que se refere a “uma pessoa que se comporta de forma obsessiva, afetuosa e sentimental em relação a outra”. No conto “A vila de Stepantchikovo e seus habitantes”, o protagonista argumenta: “Por que nosso irmão deveria saber francês? Para ‘limónnitchat’ com moças dançando mazurca, para ‘apelsínnitchat’ com as esposas dos outros? Devassidão — nada mais!”.

‘Miagkotéli’

Retrato de Saltikov-Schedrin, por Ivan Kramskoi, 1879
Galeria Tretiakov

O escritor Mikhail Saltikov-Schedrin também utilizou palavras que ele mesmo inventou. Por exemplo, ele começou a chamar uma pessoa de temperamento fraco, suscetível a qualquer influência, de “мягкотелый” (“miagkotéli”; “corpo mole”, “sem espinha dorsal”). Acredita-se que o autor de “A História de uma Cidade” também tenha começado a usar a palavra “халатный” (“khalátni”; “negligente”) para indicar alguém “descuidado”, “desatento aos detalhes”.

‘Grádusnik’

“Retrato de Lomonossov”, de Leonti Miropolski. 1787. Cópia da obra original de Georg Caspar von Prenner.
Academia de Ciências da Rússia, São Petersburgo

O notável cientista, inventor e poeta Mikhail Lomonossov foi também um dos mais famosos inventores de palavras — levado a isso pela necessidade científica de dar nomes a fenômenos e instrumentos físicos. Ao traduzir o livro didático de física de Christian Wolff para o russo, ele se viu obrigado a procurar análogos ou inventar novos termos. Entre eles estão “градусник” (“grádusnik”; “termômetro”), “вещество” (“vechestvó”; “substância”), “диаметр” (“diámetr”; “diâmetro”) e “кислота” (“kislotá”; “ácido”), entre outros.

‘Samoliót’, ‘bézdar’

Ígor Severianin
Domínio público

Devemos o surgimento dessas palavras ao poeta Ígor Severianin, autor do famoso poema “Abacaxis em Champanhe”. Ele usou a palavra “бездарь” (“bezdar”) com a tônica na segunda sílaba e no gênero feminino, referindo-se a pessoas “sem talento” e no sentido de “uma multidão sem rosto”. Severianin também foi o primeiro a usar a palavra “самолёт” (“samoliót”; “avião”) para designar uma aeronave. Antes disso, ela só era encontrada nas páginas de contos de fadas, por exemplo, quando Ivan Tsarévitch está voando em um tapete mágico.

‘Lióttchik’

Velimir Khlébnikov
Sputnik

“Летун” (“letún”; “piloto”) era a palavra usada para chamar “pessoas que pilotavam avião” antes do poeta Velimir Khlébnikov. No entanto, ele criou o novo termo — ‘lióttchik’ — que é usado ainda hoje. Aliás, Khlébnikov foi um dos primeiros, junto com Aleksandr Blok, a usar a expressão “атомная бомба” (“átomnaia bómba”;“bomba atômica”). Antes deles, a bomba era “atomítcheskaia”.

A Janela para a Rússia está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br