Você sabia que os eslavos têm o seu próprio Halloween?
Nos países da Europa e nas Américas, o dia 31 de outubro é a véspera do Dia de Todos os Santos, enquanto na Rússia a última noite de outubro é conhecida como a Noite de Veles. A origem dessa festa neopagã, porém, é duvidosa, e a celebração é ainda menos popular que a da Noite das Bruxas, considerada estrangeira na Rússia.
A tradição de celebrar o Dia das Bruxas à moda europeia apareceu na Rússia somente após o desmantelamento da URSS, mas ainda hoje não é amplamente difundida. Abóboras e decorações típicas para o feriado, que remonta às tradições dos antigos celtas da Irlanda e da Escócia, podem ser vistas apenas nas maiores cidades russas; já nas regiões remotas e nas aldeias, essa celebração não é familiar para a maioria das pessoas.
De acordo com as pesquisas de opinião pública na Rússia, apenas 5% dos russos costumam celebrar a véspera de Todos os Santos.
Participantes do 4º ‘Desfile Zumbi’ na véspera do Halloween em Novosibirsk.
No entanto, os russos e eslavos têm, em geral, o seu próprio feriado que simboliza a transição do outono para o inverno, quando a natureza “adormece” até a primavera. Supostamente, a festa provem de uma tradição antiga das tribos eslavas. Na Rússia moderna, contudo, esse feriado dificilmente pode ser considerado mais popular que o Halloween.
Segundo o neopaganismo eslavo — movimento religioso entre os povos eslavos modernos que visa ao renascimento ou reconstrução de rituais, crenças e visões de mundo pré-cristãs —, a atitude especial em relação ao final do outono e ao início do frio remonta às tradições pagãs pré-cristãs.
O conceito de neopaganismo eslavo se baseia no Livro de Veles, um texto que seria antigo, mas cuja autenticidade não é comprovada. A obra aborda a antiga religião dos povos eslavos e contém suspotas passagens mitológicas e dados históricos, bem como preceitos religiosos e morais. De acordo com os textos, os eslavos antigos acreditavam na existência de três mundos: o Iav, em que vivem todos os seres mortais; o Nav, onde vivem os deuses do mal e as almas das pessoas más; e o Prav, o território dos deuses do bem. O deus Veles, patrono da sabedoria, riqueza, caça e fertilidade, era considerado o dono e guardião das fronteiras entre os três mundos.
Imagem que seria uma fotografia de um manuscrito do Livro de Veles, Firebird Magazine, São Francisco (1955).
Segundo as crenças do neopaganismo eslavo, na noite de 31 de outubro, Veles junto com outros espíritos pode descer à Terra e dar uma bênção ou punir.
Na noite de Veles, reza a lenda, a fronteira entre os mundos se torna tão fina que os espíritos podem entrar em nosso mundo. e as pessoas vivas podem ver o mundo após a morte. Portanto, neste dia, os eslavos não saíam de casa sem motivo. Eles costumavam preparar a mesa festiva com pratos não apenas para os vivos, mas também para os parentes falecidos.
Pelo mesmo motivo, não havia diversão desnecessária na noite de Veles. Os eslavos não deixavam estranhos entrarem em casa para não atrair visitantes indesejados da vida após a morte. Para assustá-los, costumavam acender velas e uma fogueira no pátio. As janelas e as portas eram protegidas com ramos de sorveira. Durante a noite, muitos tentavam evitar andanças para não cruzar acidentalmente a fronteira dos mundos.
Brasão de Volosovo (região de Leningrado) com imagem de Veles.
Também na noite de Veles, os eslavos previam o futuro com a ajuda de livros de adivinhação e acreditavam que ver um de seus ancestrais em sonho era um bom presságio.
No entanto, a autenticidade do Livro de Veles, a fonte principal do neopaganismo eslavo, é questionada por diversos especialistas. Segundo historiadores e especialistas em cultura eslava pré-cristã, o livro é uma falsificação, criada no século 19, ou, mais provavelmente, no século 20, que apenas imita primitivamente a língua protoeslava. Estudos de especialistas em eslavo antigo, que analisaram meticulosamente inúmeras características da língua utilizada, a ortografia e a gramática, comprovam que no texto do Livro de Veles há várias palavras eslavas modernas ou medievais, usadas sem critério em vez dos seus equivalentes mais antigos, além de formas gramaticais incompatíveis com as antigas línguas eslavas.
Provavelmente, devido a todas essas dúvidas sobre a autenticidade da fonte primária que explica a peculiaridade do análogo eslavo do Halloween, ou Noite das Bruxas, a celebração da Noite de Veles nunca se tornou ou voltou a ser comum na Rússia moderna.
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