Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS)

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Maio de 1972.
TASS
Para os soviéticos, uma fogueira ou um sopé de montanha era a locação perfeita para encontrar a si mesmo, fazer amigos ou até o amor da vida.

Noites na barraca ao som do violão e saboreando batatas assadas na fogueira: nos tempos soviéticos, fazer trilhas na natureza era um passatempo muito popular. Os viajantes exploravam a taiga, desciam os velozes rios dos Urais e faziam amigos para toda a vida.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Estrada Voenno-Sukhumskaia, anos 1930.
Mikhail Gratchev/MAMM/MDF/russiainphoto.ru

As origens das trilhas e caminhadas organizadas pela natureza na Rússia remontam à década de 1920, quando foi criada uma Sociedade de Turismo e Excursões Proletárias. No início da década de 1930, ela já contava com mais de 90 acampamentos de férias e quase um milhão de membros permanentes. A palavra “turismo” da organização não tinha nada a ver com férias nas praias do Mar Negro (embora, é claro, muitas gente fizesse isso), mas sim caminhadas e trilhas em áreas específicas, superando obstáculos naturais como montanhas, rios e neve.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Pioneiros (movimento equivalente ao dos escoteiros) de Moscou em férias, anos 1940.
Serguêi Vássin/MAMM/MDF/russiainphoto.ru

Anton Makarenko, um dos mais famosos educadores soviéticos da década de 1930 (que inclusive tem um livro muito interessante sobre seus experimentos pedagógicos publicado pela editora 34 em português), usava as caminhadas como forma de recompensar sua equipe por um ano acadêmico bem-sucedido. Essa prática continuou muito popular até o final da União Soviética.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Pioneiros (movimento equivalente ao dos escoteiros) no acampamento Zelenia Gavan, 1949.
Serguêi Vássin/MAMM/MDF/russiainphoto.ru

Após a guerra, as trilhas se popularizaram: todos os centros distritais tinham clubes de caminhada, enquanto as grandes cidades tinham dedicadas agências de excursões. Além disso, todas as empresas e instituições de ensino tinham grupos de caminhadas. Eles ofereciam rotas específicas para caminhadas, tanto localmente quanto em partes remotas do país.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Fazendo o jantar, anos 1950.
Robert Diament/MAMM/MDF

Em setembro de 1965, a primeira convenção nacional de caminhadas foi realizada em Brest, seguida de uma caminhada dedicada a locais de glória militar. Por anos a fio, mais de três milhões de pessoas participaram de caminhadas. Nelas, as pessoas erguiam monumentos aos mortos da Grande Guerra Patriótica (como os russos chamam sua participação na Segunda Guerra Mundial) e organizavam seus enterros.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Trilha no Tatarstão, 1960-1965.
MAMM/MDF

Na URSS, era comum estabelecer padrões cada atividade — e as caminhadas não eram exceção. Foram desenvolvidas algumas rotas que precisavam ser percorridas atendendo a metas específicas. Também era atribuído muito valor ao trabalho em equipe, já que nas trilhas muitas vezes a vida de uma pessoa pode depender disso. Assim, nos tempos soviéticos, as pessoas faziam amigos para toda a vida e até encontravam parceiros nas caminhadas. Elas sempre podiam confiar nessas pessoas, já que em situações extremas elas revelavam quem realmente eram.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Trilha na região de Tchelyiábinsk, 1966.
V.Kauchanov/Museu da História dos Urais do Sul

A caminhada era considerada um esporte na URSS, e assim seus praticantes podiam receber premiações e competir em várias categorias.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Trilha, 1980.
Pável Súkharev

Em 1939, a O Comitê da Pan-União para Fisiculturismo e Esportes estabeleceu uma distinção intitulada "Turista da URSS". Receber isso não gerava nenhum privilégio, mas era considerado algo prestigioso. Para obter o título, era preciso cumprir metas específicas em um dos quatro tipos de turismo esportivo: turismo aquático, caminhada, ciclismo ou esqui.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Á espera do trem, 1980.
Pável Súkharev

Os concorrentes do turismo aquático tinham que saber nadar, conhecer a estrutura e os tipos de embarcações e ser competentes no salvamento aquático. Os da categoria caminhada tinham que conhecer técnicas de uso racional de energia em trilhas e saber manusear diferentes tipos de equipamentos.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Rio Aiy, 1988.
Boris Klipinitser / TASS

Esperava-se que os ciclistas estivessem familiarizados com diferentes tipos de trilhas e diferentes tipos de bicicletas. Já o esqui era considerado um dos esportes mais radicais do país, e quem o praticava tinha que saber esquiar em diferentes condições climáticas.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Viagem de inverno na Bachquíria, 1989.
Víktor Vonog / TASS

As competições estavam abertas a qualquer pessoa que tivesse feito mais de duas trilhas. Além disso, os participantes tinham que saber montar uma barraca ou construir um abrigo, prestar primeiros socorros e se orientar.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Estudantes de Rostov-no-Don, 1979.
Igor Zótin / TASS

As regras que regem essas competições mudavam de tempos em tempos. Por exemplo, a partir de meados da década de 1950, foram introduzidas metas para adolescentes praticantes de turismo esportivo e quem conseguia alcança-las recebia o título de “Jovem Turista”. Para se qualificar para o título, era preciso saber acender uma fogueira, interpretar e seguir rastros e se orientar usando uma bússola.

Trilha, a paixão do bom soviético (FOTOS) Hora do almoço.
Vsévolod Tarassévitch/MAMM/MDF/russiainphoto.ru

Na década de 1960, foi introduzido o título de "Mestre do Turismo". Para se qualificar, era preciso fazer 12 longas caminhadas por quatro regiões, cobrindo um total de 3 mil quilômetros. Nos tempos soviéticos, apenas 600 pessoas conseguiram obter esses títulos, mas mais de 600 mil receberam o distintivo de Turista da URSS. Hoje, os praticantes de caminhadas também podem obter títulos semelhantes. 

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