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Como os bolcheviques inventaram os “jornais falados”
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Após a revolução bolchevique, em 1917, apenas 20% da população russa sabia ler e escrever. Uma das principais tarefas dos bolcheviques foi a eliminação do analfabetismo, cuja campanha começou em 1919. Mas ensinar as pessoas a ler não é uma tarefa rápida, e a propaganda soviética não podia esperar. Afinal, era justamente a população analfabeta – trabalhadores, camponeses e soldados – que acabava sendo o público-alvo. Além disso, os bolcheviques não tinham recursos suficientes para a impressão de jornais. Para resolver esse problema, o governo criou os “jornais falados” .
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No início, os jornais revolucionários dos bolcheviques eram simplesmente lidos em voz alta na frente de grandes grupos de pessoas.
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Por exemplo, na cidade de Smolensk, duas vezes por semana, jornais eram lidos no parque central. Eram então anunciadas notícias internacionais e locais. Em breve, os editores perceberam que materiais satíricos, humor e poesia eram de particular interesse entre os ouvintes. O tempo de leitura recomendado não ultrapassava uma hora.
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Também ficou evidente que o texto habitual de jornal era difícil de acompanhar apenas ouvindo, por isso o material deveria ser especialmente preparado para leitura oral. Além do mais, apenas um bom orador poderia ser encarregado dessa tarefa. Trens e carros de som começaram a circular por todo o país, exibindo filmes e lendo jornais orais com apelos ideológicos e as principais notícias sobre as vitórias dos bolcheviques.
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No entanto, mesmo ouvindo esse material especialmente preparado, os soldados, por exemplo, muitas vezes começavam a ficar entediados. Assim, em diversas cidades, os jornais falados se tornaram uma verdadeira performance teatral.
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Atores amadores interpretavam cenas que mostravam o quão ruim era o inimigo “burguês” e por que era necessário combatê-lo.
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O fenômeno pegou tanto que “jornais ao vivo” existiram até a década de 1930 e surgiu um grande número de grupos de teatro amador que apresentavam o material. Com o passar do tempo, os programas se tornaram mais complexos, tanto em conteúdo quanto no cenário.
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Esses jornais também tinham que trazer informações práticas à população, como normas sanitárias e prevenção de doenças infecciosas.
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Devido às epidemias de tifo e a cólera, apareceram jornais especiais inteiros dedicados à luta contra doenças, explicando por que era necessário se livrar dos piolhos, ventilar casas e beber apenas água limpa.
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A principal diferença entre a produção teatral e os “jornais ao vivo” era que os últimos tinham que encenar apresentações sobre tópicos atuais e políticos. Após a Guerra Civil, eles começaram a se apresentar não apenas na frente de soldados, mas também em clubes, centros culturais, escolas e parques.
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Um dos grupos teatrais de propaganda mais populares foi o Túnica Azul, que incluía muitas equipes de propaganda revolucionária.
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Cenas, monólogos e “tchastúchkas” (tipo de canção folclórica humorística russa) dos “jornais ao vivo” determinaram o desenvolvimento da imprensa soviética e sua predileção pela sátira e folhetins.
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Mesmo quando o analfabetismo foi eliminado, os artistas continuaram a apresentar cenas e monólogos sobre temas atuais em parques e casas de cultura por toda a URSS.
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