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5 curiosidades sobre Mikhail Chôlokhov, autor de “O Don Tranquilo” e vencedor do Nobel de literatura

Este sábado (24) marca o aniversário de nascimento do escritor soviético Mikhail Chôlokhov. Vamos relembrar os fatos mais interessantes sobre sua vida e obra.

Mikhail Chôlokhov ganhou notoriedade com seu romance épico em quatro volumes “O Don Tranquilo” (1928-1932) sobre os cossacos do Don durante a Primeira Guerra Mundial e a subsequente Guerra Civil. Item obrigatório da literatura clássica russa, seu autor estava envolto em mistério, controvérsia e, ao mesmo tempo, louvor.

1. Famoso pela origem cossaca, escritor não era realmente cossaco 

Personagens de Grigóri e Aksínia na adaptação de 1958.
Estúdio de Cinema Górki, 1958

Chôlokhov passou parte de sua infância em um “khutor” cossaco, ou seja, uma propriedade rural ou conjunto de propriedades cossacas. Mas não foi exatamente ali que ele nasceu.

Apesar de Chôlokhov ter escrito tão vividamente e extensivamente sobre os cossacos, ele não era realmente um deles. Seu pai era um gerente de classe média de um moinho a vapor, enquanto a mãe era uma camponesa que foi serva antes do casamento.

Chôlokhov nasceu como filho ilegítimo, já que a mãe foi forçada a se casar com outro homem. Seus pais puderam se casar somente após a morte do padrasto do escritor.

2. Vai uma mãozinha de Sartre? 

Jean-Paul Sartre
Dominique BERRETTY/Gamma-Rapho via Getty Images

Em 1964, o escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre rejeitou o prêmio Nobel de literatura, escrevendo uma declaração em que expressava pesar pelo prêmio anterior não ter sido dedicado a Chôlokhov.

“A única obra soviética a receber o prêmio foi um livro publicado no exterior e proibido no próprio país”, disse o francês, referindo-se a “Doutor Jivago”, de Borís Pasternak, que ganhou o Nobel de 1958.

Acredita-se que a declaração tenha influenciado o comitê do Nobel, e o prêmio foi concedido a Chôlokhov no ano seguinte “pelo poder artístico e integridade com a qual em seu épico do Don ele conferiu expressão a uma fase histórica na vida do povo russo”.

3. A misteriosa libertação da prisão

Pável Gorchkov / Sputnik

Chôlokhov começou a trabalhar aos 15 anos de idade em diversas profissões, desde porteiro a professor escolar. Em 1922, trabalhando como inspetor fiscal em uma aldeia, ele foi preso por aceitar propina e sentenciado à morte em um tribunal.  

Seu pai pagou a enorme fiança e produziu um novo certificado para o tribunal afirmando que Chôlokhov tinha 15 anos de idade, e não 17. A sentença de morte foi transformada em um ano de colônia penal para menores.

Chôlokhov estava sendo escoltado para a colônia, mas nunca chegou e nunca passou qualquer tempo lá. Não se sabe exatamente o que aconteceu durante a viagem.  

4. Alegações de plágio

Chôlokhov em seu escritório.
Ivan Denissenko / Sputnik

Alguns críticos duvidaram que Chôlokhov fosse o real autor de “O Don Tranquilo”, alegando que ele teria tomado crédito sobre a obra de um oficial do Exército Branco morto pelos bolcheviques.

As dúvidas também foram fomentadas pela sutileza, profundidade e extensão da obra, que, segundo eles, não poderia ter sido escrita por um rapaz de 21 anos e pouca educação formal.

Os apoiadores de Chôlokhov responderam apontando para jovens gênios, como Johann Goethe, Thomas Mann e John Keats, assim como o pouco educado Maksím Górki e Ivan Búnin (que também foi laureado com o Nobel).

A questão foi finalmente resolvida em 1984, quando o eslavista Geir Kjetsaa e seus colegas conduziram profundos testes linguísticos sobre o trabalho que apoiaram a autoria de Chôlokhov.

5. Teve rixa com Soljenítsin

Aleksandr Soljenítsin
Steve Liss / Getty Images

Estes dois autores, ambos laureados com o Nobel, tiveram uma relação espinhosa. Chôlokhov escreveu uma crítica da obra de Soljenítsin “Um dia na vida de Ivan Denissovitch”, e este respondeu reacendendo as acusações de plágio contra o primeiro.

Chôlokhov, por sua vez, apoiou a perseguição de Soljenítsin e assinou a infame carta enviada por um grupo de escritores soviéticos ao editor do jornal “Pravda”, em 321 de agosto de 1973. Nela, Sojenítsin e Sákharov eram acusados de tentar “gerar desconfiança quanto ao estado soviético de políticas pacíficas”.

Além disso, Chôlokhov, que apoiava o Partido Comunista, se opunha a conceder o Prêmio Lênin ao romance de Soljenítsin “Um dia na vida de Ivan Deníssovitch”.

Posteriormente, os escritores passaram a se recusar a comentar as obras um do outro.

BÔNUS: Adaptações cinematográficas de “O Don Tranquilo”

Aleksandr Iatsenko como Mikhail Kochevoi na adaptação de 2015.
Serguêi Ursuliak/Canal de televisão Rossiya-1, 2015

O romance foi adaptado para as telas três vezes na Rússia durante o século 20 (em 1930, 1958 e 1992). A versão de 1958 foi feita pelo renomado diretor Serguêi Guerássimov e recebeu inúmeros prêmios internacionais.

Set de filmagem de ‘O Don Tranquilo’ sob direção de Guerássimov.
TASS

De fama equiparável, Serguêi Bondartchuk, que já levou uma estatueta do Oscar e um Globo de Ouro por sua versão de “Guerra e Paz”, dirigiu a terceira adaptação da obra de Chôlokhov.

O filme foi uma coprodução da URSS, Reino Unido e Itália. Mas o produtor italiano faliu, e um banco italiano tomou quase todo o filme como parte dos procedimentos.

Rupert Everett como Grigóri Mélekhov e Dolphin Forrest como Aksínia.
Serguêi Bondartchuk, Fiodor Bondartchuk/Mosfilm, Madison Motion Pictures, 2006

Bondartchuk morreu sem ver seu filme nas telas, mas seu filho, Fiódor produziu postumamente uma versão reduzida dele para a TV. 

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