
Segundo volume de contos inéditos de Andrei Platônov é lançado pela editora Ars et Vita

Dando continuidade à coletânea de contos do escritor russo Andrei Platônov, a Editora Ars et Vita apresenta agora aos leitores brasileiros o segundo volume da trilogia, intitulado “O amor pela pátria e outras histórias”.
A nova edição, também organizada e traduzida por Maria Vragova, conta com oito contos escritos entre a década de 1930 e 1940: “Úlia”, “O amor pela pátria”, “Mamãe também”, “Puk-puk”, “A pequena isbá da vovó”, “No juízo de Deus”, “A tempestade de julho” e “A flor desconhecida”.
Assim como no primeiro volume, cada uma das histórias é acompanhada por ilustrações, desta vez da artista visual mineira Anna Cunha.

“Seja através de cenas cotidianas da vida camponesa na Rússia da primeira metade do século 20, do olhar fascinado de uma pioneira para uma flor desconhecida ou das viagens de um pardal em meio ao inverno russo, Andrei Platônov reafirma o seu lugar único na história da literatura russa, através de histórias que abordam as relações entre pais e filhos, o amor, a orfandade e o destino humano”, descreve a editora Ars et Vita.
Para acompanhar o lançamento do livro, a Ars et Vita realizará nesta terça-feira (8), às 18h, uma conversa com o biógrafo de Platônov, Aleksei Varlámov, e a tradutora Maria Vragova na Livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro.
A coletânea está sendo publicada em três volumes, contemplando 24 contos do autor russo e conta com ilustrações de renomados artistas visuais brasileiros.
Também composto por oito contos, o primeiro volume, “Iúchka e outras histórias”, foi lançado em março de 2024. Leia mais sobre a obra aqui.
Confira abaixo um trecho do conto “A tempestade de julho”:
Antochka via: dali, do outro lado do rio, chegava uma noite longa e assustadora; era possível morrer nela sem ver os pais novamente, sem brincar com os meninos na rua perto do poço, sem ter contemplado tudo o que Antochka via no quintal paterno. E o forno sobre o qual Antochka dormia com sua irmã no inverno ficaria vazio. Agora ele sentia pena da vaca mansa deles, que voltava para casa todas as noites com leite, dos grilos invisíveis, que chamavam alguém antes de dormir, das baratas que viviam em frestas escuras e quentes, das bardanas no quintal e da velha cerca que já estava no mundo quando Antochka ainda nem existia — seu pai havia lhe contado; e especialmente essa cerca deixava Antochka perplexo: ele não conseguia entender como algo poderia ter existido antes dele, quando ainda não estava no mundo — o que esses objetos faziam sem ele? Pensava que eles deviam ter sentido a sua falta e o esperavam. E agora vivia entre eles, para que todos ficassem felizes, e não queria morrer, para que não sentissem de novo a sua falta.
Quem foi Andrei Platônov?
“Um escritor notável de nosso tempo” e uma das principais figuras da literatura do século 20, ao lado de Marcel Proust, Franz Kafka, Robert Musil, William Faulkner e Samuel Beckett — era assim que o poeta ganhador do Prêmio Nobel Joseph Brodsky descrevia Andrêi Platônov (1919-1951).
O detalhe é que Platônov, ao mesmo tempo em que apoiava a Revolução e se uniu ao Partido Comunista, escrevia livros muito complexos e impiedosos quanto ao sistema vigente, expondo uma sociedade totalitária.
Filho de um ferroviário, ele nasceu na cidade de Vorônej, em 1899. Seguindo os passos do pai, o adolescente trabalhou como assistente de engenheiro na Ferrovia Sudeste, sinônimo do poder industrial soviético na época. Uma das imagens mais recorrentes usadas por Platônov era a do trem ou locomotiva, que se referia metaforicamente ao tema da revolução e da utopia.
Como muitos outros jovens de sua geração, Platônov recebeu de braços abertos a Revolução de outubro de 1917. Quando a Guerra Civil estourou, ele era assistente de maquinista, e entregava munições ao Exército Vermelho.
Três décadas depois, porém, o mais soviético de todos os escritores acabaria considerado um pária, perseguido pelo regime soviético. Mais sobre Platônov
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