O que está acontecendo na pintura ‘Festas populares durante o Entrudo na Praça Admiralteyskaya em São Petersburgo’?

Nesta pintura do artista Konstantin Makóvski, a cidade inteira — sem exageros — está se divertindo.

Konstantin Makóvski (ou Makovsky) combinava habilmente rebeldia e academicismo em seus trabalhos. O artista foi um dos melhores alunos da Academia Imperial de Artes, mas, em 1863, recusou-se a participar da competição por uma grande medalha de ouro e pela criação de uma pintura sobre um tema pré-determinado. Em vez disso, juntou-se a um coletivo de artistas e passou a pintar cenas da vida dos petersburguenses; entre os seus trabalhos da época, o maior foi a tela “Festividades populares durante o entrudo na Praça Admiralteyskaya em São Petersburgo”. A obra acabou sendo apresentada na exposição anual da Academia, e o artista recebeu o título de professor por ela. A enorme pintura — 2,15 por 3,21 metros — foi então comprada por 900 rublos pelo tsar Alexandre 2º e instalada no Palácio de Gatchina.

Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo

Carnaval russo

Makóvski retratou um dos feriados populares mais populares – Maslenitsa, ou Entrudo. De acordo com a tradição, durante a semana anterior ao início da Quaresma, havia um carnaval associado à despedida do inverno e à chegada da primavera. Em São Petersburgo, grandes celebrações de Entrudo eram realizadas na praça bem em frente ao edifício do Almirantado, mas não apenas isso: em meados do século 19, as praças do Almirantado, de Santo Isaac e Petrovskaya (atual, do Senado) eram um único espaço. Assim, é possível imaginar a escala da diversão.

Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo

Naquela época, eram montados ali cenas de presépios, “caixas de surpresas” e barracas, onde eram exibidos espetáculos de marionetes e performances com a participação de atores e ‘skomorokhs’ (arlequins), bem como “quadros vivos”.

“Barracas. Grandes, redondas, em forma de caixa, com galerias e passagens e ‘teatros’ recém-construídos e com escadas de todos os tipos. Carrosséis, cadeiras de balanço, tendas panorâmicas brotavam fantasiosamente sobre a praça como cogumelos. Ali, contra o fundo de imagens assustadoras – animais, pássaros, vulcões – algo misterioso estava acontecendo: os pantomimeiros se moviam, agitavam-se: aqui havia algo como uma arlequina com a voz rouca e o pescoço atado, ao lado dela uma ‘mulher cossaca’ com estilo coquette e uma pena em um chapéu polonês, enquanto outro arlequim tocava um pandeiro”, destacou Elena Makovskaia, filha do artista.

Uma festa para todas as classes

Segundo os críticos da época, na pintura de Makóvski, é como se São Petersburgo inteira estivesse se divertindo, com representantes de todas as classes e tipos. Há um dândi de pince-nez e uma jovem com um chapéu da moda, aquecendo as mãos em um regalo de pele, mercadoras animadas e comerciantes de nozes e outros alimentos, crianças de rua em roupas surradas, um vendedor de chá, um policial e um jovem ladrão, além de atores em meias coloridas e pantomimas.

Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo

Brincadeira da moda

Além das tendas, o artista retratou também os chamados “quadros vivos”, uma forma comum de entretenimento na época. A brincadeira fica evidente pela placa ‘A Erupção do Vesúvio’ — recriando a famosa pintura ‘O Último Dia de Pompéia’, de Karl Briullov, na qual todos pareciam queriam estar “dentro”.

Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo

Aliás, devido a similaridade de composições e a densidade de pessoas retratadas, as pinturas de Briullov e Makóvski eram frequentemente alvos de comparação. Porém, diferentemente da tela de Briullov, criada nas tradições do gênero histórico, ‘Festas Populares’ ganhou personagens assimiláveis e próximos dos contemporâneos de Makóvski.

Konstantin Makóvski/Museu Russo
Konstantin Makóvski/Museu Russo

Em 1897, o quadro foi transferido do Palácio de Gatchina para o Museu Russo, onde permanece até os dias de hoje.

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