10 obras-primas da pintura russas que levaram anos ou até décadas para serem concluídas

Um dos pintores mais famosos da Rússia, Ivan Aivazôvski, pintava seus quadros enormes com muita rapidez e estabeleceu um recorde pessoal – criou uma de suas telas em apenas duas horas. Porém, a maioria dos artistas plásticos preferia trabalhar sem pressa.

1. Víktor Vasnetsov, A Princesa Adormecida”, 40 anos

Víktor Vasnetsov/ Casa-museu de V.M. Vasnetsov
Víktor Vasnetsov/ Casa-museu de V.M. Vasnetsov

Víktor Vasnetsov foi um pintor que se especializou na temática da mitologia e dos temas históricos. Ele é considerado uma das figuras-chave do movimento revivalista na arte russa. O artista nunca terminou uma de suas mais famosas pinturas de contos de fadas, “A Princesa Adormecida”. Por muitos anos, a obra ficou em seu estúdio sem data ou assinatura. Vasnetsov começou a trabalhar no seu ciclo de pinturas “Poema dos Sete Contos” na década de 1880 e completou os primeiros esboços na mesma época. Vasnetsov trabalhou na versão final da pintura entre 1913 e 1917, mas o público viu “A Princesa Adormecida” apenas um ano após a morte do mestre em 1927.

2. Aleksandr Ivanov, A Aparição de Cristo ao Povo”, 20 anos

Aleksandr Ivanov/Galeria Tretiakov
Aleksandr Ivanov/Galeria Tretiakov

Este quadro, que levou 20 anos de trabalho, é considerado a obra-prima de Aleksandr Ivanov. O artista fez mais de 200 esboços antes de começar a versão final.

Ivanov trabalhou nela em Roma, onde era como membro da Sociedade para o Encorajamento dos Artistas, e retornou à Rússia apenas 28 anos depois para apresentar a pintura. Acabou sendo comprada pelo imperador Alexandre 2º por 15 mil rublos em prata. Atualmente, esta pintura gigante (com 540 × 750 cm) ocupa uma sala especial na Galeria Tretiakov e a ex-diretora do museu, Zelfira Tregulova, a chama de “a maior obra da arte russa”.

3. Víktor Vasnetsov, “Os bogatires”, 18 anos

Víktor Vasnetsov/Galeria Tretiakov
Víktor Vasnetsov/Galeria Tretiakov

Provenientes, a que tudo indica, dos tempos pagãos, os contos de bogatires, ou seja, corajosos guerreiros, foram preservados no folclore do país.

Vasnetsov queria criar uma pintura que retratasse “cavalos fortes e felpudos e uma poderosa trindade de bogatires”. Depois de finalizar o esboço, porém, ele passou onze anos pintando a Catedral de Vladímir em Kiev. Vasnetsov levou o quadro “Os bogatires” inacabado para Kiev, mas voltou a trabalhar nele apenas em 1894. A obra foi finalizada em 1898 e, logo em seguida, comprada pelo filantropo Pável Tretiakov, fundador da galeria mais famosa da Rússia.

4. Vassíli Polenov, Cristo e a Pecadora”, 15 anos

Vassíli Polenov/Museu Russo
Vassíli Polenov/Museu Russo

Em 1857, Vassíli Polenov estava entre os espectadores da primeira exibição da pintura “A Aparição de Cristo ao Povo” de Aleksandr Ivanov. Naquele momento, o futuro grande pintor russo de 13 anos teve o sonho de criar sua própria tela de Jesus. Na década de 1870, ele começou a trabalhar nos primeiros esboços. Polenov a considerou a obra de sua vida. Para retratar fielmente Cristo e as paisagens da Judeia, o artista viajou pelo Oriente Médio por anos a fio e fez dezenas de estudos e esboços. Seu principal objetivo era mostrar Cristo como uma pessoa comum. Ao retornar a Moscou, o artista criou um esboço em tamanho real e dedicou os anos 1886 e 1887 ao trabalho na pintura. Polenov apresentou a obra na exposição dos Itinerantes em São Petersburgo, onde o imperador russo Alexandre 3º a adquiriu de imediato.

5. Fiódor Bruni, A Serpente de Bronze”, 14 anos

Fiódor Bruni/Museu Russo
Fiódor Bruni/Museu Russo

O pintor russo Fiódor Bruni começou a trabalhar nessa obra gigante em 1827, embora tivesse feito esboços preliminares três anos antes. O artista trabalhou em Roma até o verão de 1841, quando enviou o quadro finalizado para São Petersburgo. A imagem que retrata a sombria história do Antigo Testamento sobre o povo de Israel, sobre quem Deus enviou cobras venenosas por suas reclamações, encantou o público e o monarca russo. O imperador Nicolau 1º comprou a pintura por 30 mil rublos.

6. Iliá Répin, Os cossacos escrevem uma carta ao sultão turco”, 11 anos

Iliá Répin/Museu Russo
Iliá Répin/Museu Russo

Nos anos 1670, o Império Otomano entrou em conflito com o Tsarado da Rússia. Duzentos anos depois, o pintor realista Iliá Repin ouviu uma história sobre cossacos que teriam escrito uma carta humilhante para Maomé 4º, o sultão do hostil Império Otomano. Os cossacos, segundo a história, receberam uma carta do sultão do Império Otomano exigindo a sua rendição. Com isso, os cossacos se reuniram para redigir uma resposta e o fizeram nos termos mais humilhantes possíveis. O conto inspirou o artista a criar uma de suas obras-primas mais conhecidas, mas os historiadores duvidam que a carta seja algo mais do que um enredo folclórico que visava a destacar a grandeza, o orgulho e o amor pela liberdade dos cossacos. O trabalho de Répin nessa obra gigante levou quase 11 anos.

7. Karl Briullov, “Fonte de Bakhtchisarai”, 11 anos

Karl Briullov/Museu Estatal Púchkin de Belas Artes
Karl Briullov/Museu Estatal Púchkin de Belas Artes

Esta pintura é dedicada ao maior poeta russo, Aleksandr Púchkin. Briullov era amigo dele e ficou profundamente chocado com sua morte. O artista decidiu criar uma pintura em sua memória e escolheu uma cena do poema homônimo de Púchkin. Ao longo de 11 anos, até 1849, ele fez vários esboços, escolhendo como tema a vida cotidiana do harém do cã e suas belas escravas.

8. Mikhail Nésterov, Santa Rus”, 6 anos

Mikhail Nésterov/Museu Russo
Mikhail Nésterov/Museu Russo

A ideia de representar Jesus Cristo cercado pelos reverenciados santos russos Nicolau, Sérgio e Jorge recebendo os peregrinos veio ao artista na segunda metade da década de 1890. Em 1900, Mikhail Nesterov criou o esboço final e o concluiu em 1905. Após acabar a obra, ele disse: “Depois de tanto trabalho não seria vergonhoso aposentar-se”.

9. Vassíli Maksimov, Tudo está no passado”, 4 anos

Vassíli Maksimov/Galeria Tretiakov
Vassíli Maksimov/Galeria Tretiakov

Depois de se formar pela Academia de Artes, Maksimov trabalhou como professor de desenho na vila, na propriedade dos Condes Golenischev-Kutuzov. Foi então que lhe surgiu a ideia para esta obra. Mais de vinte anos se passaram desde a concepção até a conclusão do trabalho. Em 1885, Maksimov pintou seus primeiros esboços, inspirados pelas vistas do jardim da propriedade às margens do Volkhov e da casa ao lado. Quatro anos depois, ele começou a trabalhar na pintura e a concluiu em 1889. A obra retrata duas mulheres idosas — uma senhora e sua empregada — sentadas em um dia ensolarado de primavera na soleira de uma casa. A obra de Maksimov foi um sucesso excepcional: o crítico Vladímir Stasov escreveu que “este é um tema maravilhosamente abordado e maravilhosamente transmitido”, e o pintor Vassíli Polenov caracterizou as figuras da senhora e da empregada como “incrivelmente verdadeiras e vívidas”.

10. Vassíli Perov. Nikita Pustosviat. Disputa sobre a fé”, 3 anos

Vassíli Perov/Galeria Tretiakov
Vassíli Perov/Galeria Tretiakov

Para essa obra-prima, o pintor Vassíli Perov escolheu um tema da história russa do final do século 17. Em 1682, após a morte do tsar Teodoro 3º, sua irmã mais velha, a princesa Sofia, tornou-se regente dos jovens tsar Pedro 1º e Ivan 5º. Naquele período, os Velhos Crentes começaram a pregar entre os militares. Seu líder, o padre Nikita Dobrynin, apelidado de Pustosviat, apareceu com seus apoiadores no Palácio das Facetas do Kremlin, onde ocorreu um debate sobre fé com participação da princesa Sofia e do patriarca Joaquim. Vassíli Perov trabalhou na pintura durante três anos, mas não conseguiu terminá-la — o artista faleceu em 1882.

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