
O que está acontecendo na pintura “Destruição da Vetche de Nôvgorod”, de Klávdi Lébedev?

Pupilo dos famosos pintores russos Vassíli Perov e Evgraf Sorokin, Klávdi Lébedev (1852-1916) se tornou popular graças às suas pinturas históricas. Adepto do estilo realista, ele dedicou a maioria de suas obras aos acontecimentos da história russa do século 10 ao 17, deixando um extenso legado de pinturas e desenhos históricos com cenas da “vida doméstica” da Rússia Antiga. Além disso, estudava os detalhes históricos com atenção para que tudo nas suas telas fosse autêntico.
Em 1877, quando o pintor russo Vassíli Súrikov apresentou ao público sua obra-prima “A Boiarina Morozova”, Lébedev sentiu-se inspirado e começou a trabalhar em uma nova pintura histórica.

Em 1891, na exposição dos Itinerantes, o pintor apresentou sua maior obra — de 2,5 metros por 4 metros — chamada “Retirada do Sino. Marfa Posádnitsa. Destruição da Vetche de Nôvgorod”.
Marta, a viúva do prefeito
Uma das fontes de inspiração para o artista foi a novela do historiador Nikolai Karamzin “Marfa, a Posadnitsa, ou a Conquista de Nôvgorod”, em que descreve a dramática história da anexação de Velíki Nôvgorod (também conhecida como Novoguárdia, em português) e da República da Novogárdia (Nôvgorod) ao principado de Moscou no século 15.

O primeiro tsar de toda a Rússia, Ivan 3º, decidiu unir as terras do nordeste da Rússia em um único Estado. Mas Nôvgorod não queria perder sua independência. A nobreza local estava pronta para concluir um acordo secreto com o Grão-Ducado da Lituânia, reconhecendo sua autoridade, mas em troca esperava proteção das invasões do tsar.

As negociações com o rei polonês Casimiro 4º foram conduzidas por Marfa Borétskaia, também conhecida como Marfa, a Posádnitsa. Ela era viúva do governante da Novoguárdia, Isaac Boretski. O tsar, porém, interceptou a correspondência entre Marfa e o rei polonês e declarou guerra à República da Novogárdia.
Remoção do sino
A guerra durou anos. Em 1477, Ivan 3º conseguiu sitiar a cidade e, em pouco tempo, a República da Novaguárdia teve que concordar com os termos do tsar de Moscou. A vetche, ou seja, assembleia popular, que havia atuado como instrumento de democracia direta e governado a cidade por mais de seis séculos, foi dissolvida.
O sino especial da vetche, cujo toque anunciava a assembleia, foi removido do campanário e levado para Moscou. Este é exatamente o momento retratado por Klávdi Lébedev.

Guerreiros de Moscou e defensores de Marfa se reuniram na praça da assembleia. No centro da pintura está o sino amarrado por cordas, já sobre o trenó. As pessoas choram por ele como se fosse um parente falecido.

Marfa Borétskaia está à direita, com o rosto imóvel, ouvindo o escrivão ler as acusações contra si. Entendendo o que a espera, ela se mantém ereta, sem demonstrar emoções.

Marfa foi privada de suas terras e, junto com seu filho Fiódor e seu neto Vassíli, acabou sendo transferida para Moscou. Mais tarde, foi enviada para o Mosteiro da Conceição em Níjni Nôvgorod, onde passou o resto de seus dias como freira.
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