Ponte de Kalínov: a fronteira ardente entre o bem e o mal

ChatGPT
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No vasto universo do folclore russo, poucos símbolos são tão poderosos e enigmáticos quanto a Ponte de Kalínov (Калинов мост). Esta ponte lendária não apenas conecta duas margens, mas também representa a linha divisória entre forças opostas: vida e morte, luz e escuridão, bem e mal.

Uma ponte sobre o rio de fogo

De acordo com os bilinas (antigos poemas épicos transmitidos oralmente de geração em geração), a Ponte de Kalínov atravessa o rio Smorodina, também chamado de rio de fogo. Este rio não é composto por águas paradas, mas por chamas incandescentes que separam mundos incompatíveis. De um lado, o reino do bem; do outro, o domínio do mal.

O nome da ponte vem provavelmente da palavra arcaica russa “kalina”, que originalmente significava “incandescente”, “ardente”. Assim, a Ponte de Kalínov não seria uma passagem comum, mas uma estrutura forjada no fogo, destinada a testar a alma de quem a atravessa.

Local de batalhas míticas

A Ponte de Kalínov não é um local neutro de passagem. Nos contos tradicionais, é lá que os “bogatires” (heróis do imaginário russo, como Dobrínia Nikitich ou Iliá Múromets) enfrentam monstros, bruxas e demônios. Trata-se de uma fase de provação, sacrifício e redenção. Só os verdadeiramente justos podem atravessá-la, e muitos morrem na tentativa.

Essa natureza limítrofe a torna uma espécie de julgamento final: quem pisa na ponte não pode mais hesitar. As decisões foram tomadas bem antes, ao longo da vida do indivíduo. A travessia é o ápice — não o começo.

Iván Bilibin Dobrínia Nikitich salva Zabava do (dragão Zméi) Gorínitch,, por Iván Bilibin, 1941
Iván Bilibin

Entre o mundo dos vivos e dos mortos

Em outras versões folclóricas, a Ponte de Kalínov não separa o bem do mal, mas algo ainda mais radical: o mundo dos vivos e a vida após a morte. Nesse sentido, lembra o barqueiro do submundo Caronte da mitologia grega ou a Ponte Chinvat do Zoroastrismo. Atravessá-la significa deixar todas as coisas terrenas para trás, enfrentar o julgamento e, talvez, encontrar a eternidade — ou a condenação.

Gustave Doré/Domínio público Caronte em uma gravura de Gustav Doré para “A Divina Comédia”
Gustave Doré/Domínio público

Cobre com fogo

Canções antigas descrevem a ponte com os adjetivos ‘kalinovi’ e ‘medni’ (de cobre) — um metal associado ao fogo, à guerra e aos rituais xamânicos. Este detalhe material não é insignificante: o cobre é um condutor, um intermediário, um metal transformador. Desse modo, a Kalínov não é somente uma passagem: é um cadinho onde o destino se funde.

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