
Os neologismos de escritores russos

‘Golochtánni’

Considerado um dos principais poetas da revolução, Vladímir Maiakóvski criava facilmente novas palavras com base em outras antigas e já bem conhecidas, e até inventou palavras próprias – para o “novo mundo”.
Por exemplo, ele criou “многопудье” (“mnogopúdie”), que significa “muitos puds” (pud é uma antiga unidade russa de massa, que equivale a cerca de 16,38 kg); “бесконечночасый” (“beskonetchnotchássi”), que quer dizer “sem limite de tempo”. E Maiakóvski chamava o balé de “дрыгоножества” (“drigonójestva”). Algumas palavras nem precisam de explicação, como, por exemplo: “стодомный” (ou “stodómni”) se refere a uma infinidade de edifícios residenciais. Ou “голоштанный” (“goloshtánni”), que literalmente significa “calças nuas” e faz alusão à pobreza do povo. Maiakóvski criou, por sinal, a metáfora mais vívida associada ao passaporte soviético – “молоткастый и серпастый” (“molotkãsti i serpásti”), ou “com foice e martelo”. O brasão da URSS com foice e martelo estava, de fato, estampado na capa do principal documento civil.
Além disso, o poeta deu origem a uma unidade fraseológica que ainda é usada na fala cotidiana: “ежу понятно” (“ejú poniátno”) ou “está claro para um ouriço”. É assim que se fala sobre algo óbvio e que não requer nenhuma explicação adicional: “Está claro até para um ouriço – este Pétia era um burguês!”
‘Stuchevátsia’, ‘limónnitchat’

O autor de “Crime e Castigo”, Fiódor Dostoiévski, deu à língua russa dezenas de novas palavras. No conto “O Duplo”, a palavra “стушеваться” (“stuchevátsia”; “desaparecer”) aparece pela primeira vez. O escritor a utilizou com significado de “passar despercebido”, mas, com o tempo, essa palavra passou a ser usada em relação a uma pessoa que, por algum motivo, ficava constrangida ou tímida.
Dostoiévski também cunhou a palavra “лимонничать” (“limónnitchat”), que quer dizer “ser excessivamente educado, quase artificial”. O escritor se inspirou em uma palavra similar já existente, “mindálnitchat”, que se refere a “uma pessoa que se comporta de forma obsessiva, afetuosa e sentimental em relação a outra”. No conto “A vila de Stepantchikovo e seus habitantes”, o protagonista argumenta: “Por que nosso irmão deveria saber francês? Para ‘limónnitchat’ com moças dançando mazurca, para ‘apelsínnitchat’ com as esposas dos outros? Devassidão — nada mais!”.
‘Miagkotéli’

O escritor Mikhail Saltikov-Schedrin também utilizou palavras que ele mesmo inventou. Por exemplo, ele começou a chamar uma pessoa de temperamento fraco, suscetível a qualquer influência, de “мягкотелый” (“miagkotéli”; “corpo mole”, “sem espinha dorsal”). Acredita-se que o autor de “A História de uma Cidade” também tenha começado a usar a palavra “халатный” (“khalátni”; “negligente”) para indicar alguém “descuidado”, “desatento aos detalhes”.
‘Grádusnik’

O notável cientista, inventor e poeta Mikhail Lomonossov foi também um dos mais famosos inventores de palavras — levado a isso pela necessidade científica de dar nomes a fenômenos e instrumentos físicos. Ao traduzir o livro didático de física de Christian Wolff para o russo, ele se viu obrigado a procurar análogos ou inventar novos termos. Entre eles estão “градусник” (“grádusnik”; “termômetro”), “вещество” (“vechestvó”; “substância”), “диаметр” (“diámetr”; “diâmetro”) e “кислота” (“kislotá”; “ácido”), entre outros.
‘Samoliót’, ‘bézdar’

Devemos o surgimento dessas palavras ao poeta Ígor Severianin, autor do famoso poema “Abacaxis em Champanhe”. Ele usou a palavra “бездарь” (“bezdar”) com a tônica na segunda sílaba e no gênero feminino, referindo-se a pessoas “sem talento” e no sentido de “uma multidão sem rosto”. Severianin também foi o primeiro a usar a palavra “самолёт” (“samoliót”; “avião”) para designar uma aeronave. Antes disso, ela só era encontrada nas páginas de contos de fadas, por exemplo, quando Ivan Tsarévitch está voando em um tapete mágico.
‘Lióttchik’

“Летун” (“letún”; “piloto”) era a palavra usada para chamar “pessoas que pilotavam avião” antes do poeta Velimir Khlébnikov. No entanto, ele criou o novo termo — ‘lióttchik’ — que é usado ainda hoje. Aliás, Khlébnikov foi um dos primeiros, junto com Aleksandr Blok, a usar a expressão “атомная бомба” (“átomnaia bómba”;“bomba atômica”). Antes deles, a bomba era “atomítcheskaia”.
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