Quem cunhou a expressão sobre “os dois males da Rússia — estradas e tolos”?
“As estradas se arrastavam em todas as direções, como lagostins capturados quando retirados de um saco”, observa ironicamente um dos personagens de Nikolai Gógol em “Almas Mortas”. No mesmo romance, o autor também alfineta os tolos: “O homem é generoso com a palavra ‘tolo’ e está pronto para usá-la vinte vezes por dia contra o seu vizinho”.
Outros clássicos russos também abordaram o tema dos “dois males eternos”.
“Agora, nossas estradas estão ruins, nossas pontes esquecidas estão apodrecendo”, lamentou Aleksandr Púchkin em “Eugênio Onêguin”. Nikolai Nekrasov, por sua vez, indignou-se: “Não vamos diminuir o número de tolos na Rússia, mas traremos melancolia aos inteligentes”. Até mesmo Nicolau 1º, que preferia viagens rápidas, disse algo semelhante: “A distância é o flagelo da Rússia!”. Tal posicionamento ecoou nas palavras de Alexandre 1º, que se autodenominava um “morador de carruagens”: “A Rússia já é vasta demais: as grandes distâncias entre províncias dificultam a comunicação. Essas condições impedem o fortalecimento da ordem geral, que sofre muito com isso.”
No entanto, nenhum deles combinou os dois problemas em uma única frase — a “dupla de males” só foi proferida no final da década de 1980. Pesquisadores acreditam que foi cunhada pelo escritor satírico Mikhail Zadornov. “Gógol escreveu: ‘Na Rússia, há dois problemas: estradas e tolos.’ Esta é a invejável coerência que mantemos até hoje”, observou o autor em um de seus monólogos. Mas Zadornov aparentemente usou a referência ao autor de “Almas Mortas” e "O Inspetor Geral” para evitar a censura da época. Por incrível que pareça, ninguém se preocupou em verificar a autenticidade dessa citação. A frase em si se tornou imediatamente popular e é usada ainda hoje para evidenciar essas questões.
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