Quem cunhou a expressão sobre “os dois males da Rússia — estradas e tolos”?

Kira Lissítskaia (Foto: francescoch, ilbusca/Getty Images; Galeria Tretiakov; Aleksandr Mamaev/URA.RU/TASS)
Kira Lissítskaia (Foto: francescoch, ilbusca/Getty Images; Galeria Tretiakov; Aleksandr Mamaev/URA.RU/TASS)
“A Rússia tem dois males: estradas e tolos!” (“У России две беды: дороги и дураки”/“U Rossíi dve bedí: dorógui e durakí") Essa expressão foi atribuída a pelo menos três escritores clássicos e um imperador. Mas, na verdade, ela só surgiu no século 20.

“As estradas se arrastavam em todas as direções, como lagostins capturados quando retirados de um saco”, observa ironicamente um dos personagens de Nikolai Gógol em “Almas Mortas”. No mesmo romance, o autor também alfineta os tolos: “O homem é generoso com a palavra ‘tolo’ e está pronto para usá-la vinte vezes por dia contra o seu vizinho”.

Outros clássicos russos também abordaram o tema dos “dois males eternos”.

“Agora, nossas estradas estão ruins, nossas pontes esquecidas estão apodrecendo”, lamentou Aleksandr Púchkin em “Eugênio Onêguin”. Nikolai Nekrasov, por sua vez, indignou-se: “Não vamos diminuir o número de tolos na Rússia, mas traremos melancolia aos inteligentes”. Até mesmo Nicolau 1º, que preferia viagens rápidas, disse algo semelhante: “A distância é o flagelo da Rússia!”. Tal posicionamento ecoou nas palavras de Alexandre 1º, que se autodenominava um “morador de carruagens”: “A Rússia já é vasta demais: as grandes distâncias entre províncias dificultam a comunicação. Essas condições impedem o fortalecimento da ordem geral, que sofre muito com isso.”

No entanto, nenhum deles combinou os dois problemas em uma única frase — a “dupla de males” só foi proferida no final da década de 1980. Pesquisadores acreditam que foi cunhada pelo escritor satírico Mikhail Zadornov. “Gógol escreveu: ‘Na Rússia, há dois problemas: estradas e tolos.’ Esta é a invejável coerência que mantemos até hoje”, observou o autor em um de seus monólogos. Mas Zadornov aparentemente usou a referência ao autor de “Almas Mortas” e "O Inspetor Geral” para evitar a censura da época. Por incrível que pareça, ninguém se preocupou em verificar a autenticidade dessa citação. A frase em si se tornou imediatamente popular e é usada ainda hoje para evidenciar essas questões.

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