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Por que os atendentes de bânia eram tão valorizados na Rússia tsarista?

Homens na bânia Egorov
Domínio público
A tradição de frequentar regularmente bânias — as tradicionais saunas russas — existe há séculos. Em Moscou, por exemplo, a maioria dos moradores locais ainda conhece os nomes e a localização das principais bânias da cidade. Nos tempos tsaristas, as bânias públicas eram frequentadas por praticamente toda a população. Para atender esse público, era preciso habilidade e destreza. Cada atendente de bânia (банщик, ou bánschik) passava por anos de formação antes de ser autorizado a cuidar dos clientes.

“Desde tempos imemoriais, Moscou recebia atendentes de bânia formados nas seguintes regiões: Zaraisk, Riazán, Tula, Kachira e Venev", escreveu o historiador e escritor Vladímir Guiliaróvski em seu livro “Moscou e os moscovitas”.

Vista geral do vestiário em frente às cabines de banho individuais
Autor desconhecido/Arquivo de Leonoro Karel/russiainphoto.ru

Os futuros atendentes eram recrutados ainda pequenos, no interior da Rússia. Aos 10 ou 12 anos, eram levados a Moscou por viajantes a cavalo, hospedados na casa de parentes e passavam por uma “urbanização”: tinham o cabelo cortado, eram lavados e vestidos com roupas da cidade. As primeiras “lições” rumo à maestria profissional envolviam o reconhecimento da geografia local — era preciso saber onde ficavam as tavernas, como entrar pelos fundos, onde buscar água fervente e onde comprar pão. O primeiro trabalho era como mensageiro.

Além disso, as tarefas dos recém-chegados incluíam o preparo de veniks, um tipo de vassoura feita de galhos de carvalho ou bétula ainda com as folhas, que devem ser secas com antecedência. O vênia é utilizado para uma espécie de massagem que os russos acreditam ser boa para a saúde. Aos sábados e vésperas de grandes feriados, as bânias precisavam de milhares de veniks, que eram trazidos em carroças de povoados remotos.

Dentro das bânias, os aprendizes atuavam nas áreas de vestiário e ajudavam os barbeiros, aprendendo a cortar unhas e remover calos. Produziam esponjas a partir de estopa.

Cabeleireiro na bânia Khludovski
Domínio público

As bânias não funcionavam todos os dias. Nas duas “folgas” da semana — segunda e terça-feira — os futuros atendentes lavavam garrafas, ajudavam a engarrafar o kvass (bebida fermentada russa), faziam a limpeza do pátio e da casa dos patrões, recolhiam o lixo e tiravam a neve dos telhados.

O aprendizado ia até os 17 ou 18 anos. A essa altura, já dominavam os costumes da bânia e sabiam como lidar com os visitantes. O jovem então pedia ao patrão que o promovesse a “molodéts” — espécie de assistente sênior — para assumir um posto de atendente. O trabalho era exaustivo, remunerado apenas por gorjetas, mas os ganhos compensavam os sacrifícios.

“Das cinco da manhã até à meia-noite, nu, molhado, descalço, vestindo apenas um avental curto da cintura ao joelho, o homem trabalha sem parar, com todos os músculos do corpo, em temperaturas que variam de 17 a 75 graus Celsius. Nesse intervalo, ele só consegue secar o corpo por meia hora ao meio-dia, quando coloca a roupa para o almoço e calça chinelos”, escreveu Guiliaróvski.

Na bânia Egorov
Domínio público

Um atendente de bânia experiente operava num ritmo preciso, batendo o venik nas costas, braços e pernas do cliente com habilidade e precisão, acompanhando os golpes com piadas. Bons atendentes de bânias eram conhecidos e respeitados em toda a cidade. Eles também conheciam bem os seus clientes, quem pagava quanto, e atendiam clientes diferentes de maneira específica.

Ao contrário de outros aprendizes, suas condições de vida eram boas para a época: trabalhavam e viviam entre conterrâneos e parentes, seguiam os seus exemplos, poupavam as gorjetas. Mais tarde, voltavam às suas aldeias, agora conhecidos como “moscovitas”, para escolher uma noiva.

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