Como uma modelo italiana se tornou esposa de um artista russo
Vittoria Caldoni foi retratada por artistas célebres como Karl Briullov, Aleksandr Ivanov e Ivan Chapovalov. No entanto, eles não foram os únicos cativados por sua beleza. Historiadores sugerem que ela serviu de protótipo para a personagem principal da novela “Annunziata”, de Nikolai Gógol. E foi precisamente sua aparência que o escritor clássico russo descreveu da seguinte forma: "Tente olhar para um relâmpago quando, após rasgar as nuvens negras como carvão, ele treme insuportavelmente com uma torrente de brilho. Assim são os olhos de Albana Annunziata. Tudo nela evoca aqueles tempos antigos em que o mármore ganhava vida e os cinzéis esculpidos cintilavam (…) Mas o mais maravilhoso de tudo é quando ela olha diretamente nos olhos de alguém, causando um arrepio e uma sensação de aperto no coração.”
Aos 15 anos, a camponesa romana Caldoni foi contratada como camareira pelo embaixador prussiano. Graças à sua beleza estonteante, Vittoria causava uma grande impressão nos artistas que visitavam a casa do diplomata e logo se tornou uma modelo popular. A fama da italiana era tão grande que até Goethe a conhecia, e seus retratos foram mantidos na coleção do rei Luís 1º da Baviera. A maior parte dos retratos de Vittoria foram feitos pelo artista alemão Julius Schnorr von Carolsfeld, que buscava obsessivamente capturar as feições da moça com máxima precisão.
Apesar da fama, Vittoria se destacava por sua rara modéstia. Ela posou nua apenas uma vez, em 1831, para o artista russo Grigóri Laptchenko. O talentoso servo do conde Vorontsov havia chegado a Roma no ano anterior em uma viagem de pensionistas com Aleksander Ivanov. É provável que tenha surgido, então, uma paixão entre o artista e a modelo, plenamente revelada na pintura “Susanna e os Anciãos”, que os historiadores da arte consideram a obra-prima do artista.
O caso culminou em casamento no outono de 1839. O amor entre eles era tão grande que Vittoria chegou a viajar com o marido, já debilitado por uma doença, para a distante e fria Rússia. Graças ao mecenato do conde Vorontsov, a família se estabeleceu na Crimeia, onde seu único filho, Serguêi, nasceu em 1841.
Graças aos esforços do poeta Vassíli Jukóvski, o artista também recebia uma pensão e sua pintura “Jovem com Cesta de Pão” foi homenageada ao ser adquirida pelo grão-duque Aleksandr Nikolaevicth.
Nos anos seguintes, o casal viajou diversas vezes para a Europa, porém, sempre retornou à Rússia. O seu último refúgio foi São Petersburgo, onde Grigóri Laptchenko faleceu em 1876.
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