Os soviéticos andavam de táxi?

A famosa expressão envolvendo táxi e padaria tornou-se imediatamente popular na URSS. No filme, ela é proferida por uma personagem odiosa, a zeladora de um prédio de apartamentos, “guardiã da ordem pública e da moralidade”. Nesta frase está codificado todo o desprezo soviético por um luxo tão burguês como o táxi. E, realmente, ninguém pegava um táxi para ir até a padaria da esquina durante a época da União Soviética.

Cena de “Braço de Diamante”

Na época, a maioria das pessoas usava o transporte público. Alguns sortudos tinham um carro particular. Era possível comprá-los, mas muitas vezes era preciso esperar anos até chegar a sua vez. Quem tinha carro particular sem dúvida levava amigos para a datcha, ajudava em mudanças e colocava um laço no carro para levar os noivos pela cidade.

Os chefões, generais e funcionários tinham carros de serviço com motorista pessoal a quem pagavam pelo trabalho. Era um sinal de status.

Motorista de táxi.

Mas então significa que não havia táxis? Claro que eles existiam. Na década de 1960, os líderes soviéticos chegaram a considerar a ideia de produzir em massa um “táxi promissor”, uma espécie de micro-ônibus confortável. Mas o projeto utópico acabou sendo abandonado (leia mais aqui).

Quanto custava um táxi?

O táxi era um luxo e custava muito dinheiro. “Às vezes, nos anos 80, eu podia me dar um presente e pegar um táxi para o trabalho se chegasse tarde, mas depois teria que tomar apenas café até que meu salário fosse pago”, diz Olga, de Leningrado (atual São Petersburgo).

Vamos comparar: o taxímetro girava a partir de 10 copeques por quilômetro. E viajar de transporte público custava apenas 3 a 5 copeques por passagem. O salário médio de um soviético era de 150 a 170 rublos.

Os taxistas eram considerados quase uma casta privilegiada. Ganhavam bem e podiam dirigir luxuosos Volga e outros modelos (antes da guerra, limusines ZIS-101). Acreditava-se também que o taxista era possuidor de conhecimentos secretos, pois tinha a possibilidade de conviver com figurões. Daí em diante, surgiram muitas lendas inventadas pelos próprios taxistas.

Uma passagem importante de outro filme cult soviético, intitulado ‘Três Álamos em Pliuschikha’, se passa em um táxi. Gentil e generoso, o motorista praticamente não cobra para transportar uma garota da estação de trem, embora pare para resolver seus próprios assuntos ao longo do trajeto e eles acabem rodando por grande parte de Moscou até chegar ao destino.

Cena de “Três Álamos em Pliuschikha”.

Quem usava táxi e quando?

Era possível chamar táxi na rua, se o veículo estivesse com a luz verde acesa no teto, ou também por telefone. Mas este serviço não funcionava muito bem.

“Para nós, cada ida ao teatro ou ao aeroporto de táxi era uma torrente de estresse para mamãe. Porque às vezes os táxis demoravam a chegar e às vezes os motoristas nem chegavam”, recorda uma moscovita da sua infância na década de 1980. Os táxis eram geralmente usados ​​para ir e voltar do aeroporto. Na época, as viagens aéreas não eram tão populares como hoje, por isso não havia um grande fluxo de ônibus realizando esses trajetos. 

Houve pessoas que andaram de táxi apenas uma vez na vida. Por exemplo, um táxi foi chamado para buscar sua esposa na maternidade. Ou, depois de um grande banquete, os aposentados poderiam voltar para casa de táxi.

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